As aventuras de Tonico - As meias molhadas

     Aos 18 anos, filho de mãe viúva, tão pobre que marcava encontro com as namoradas dentro do cinema, pois não podia pagar-lhes as entradas, apaixonei-me outra vez. A moça era encantadora, mas tinha um gênio forte e arrebatado. Eu estava de viagem marcada para o Rio de Janeiro, destino de todos os rapazes nordestinos pobres da época, e pretendíamos casar tão logo eu arranjasse um bom emprego na antiga Capital Federal.
      Um dia, caminhava com essa minha namorada para a sua casa quando caiu um aguaceiro. Depois que passou, retornamos a caminhada por entre as ruazinhas de piçarra inundadas. Ficamos com os sapatos totalmente encharcados de água. Quando chegamos à casa da namorada, ela disse:
      - Meu bem, tira os sapatos, para eu lavar e enxugar as suas meias.
      Respondi, nervoso:
      - Não, não precisa, vou já para casa.
      - Mas você pode pegar um resfriado com essas meias molhadas. Tira, amor, me deixa enxugá-las!
      Fiquei zangado:
      - Já não te disse que não quero tirar as meias? Tu és muito chata, poxa!
      - Hum, tu não gostas de carinho? Estou apenas sendo cuidadosa contigo.
      - Pois dane-se o seu cuidado! Quero ficar assim mesmo, com as meias molhadas!
      Como eu tinha fama de arreliado, casca grossa, ela não insistiu, mas retorquiu com raiva:
      - Estúpido, não admito que me trates assim, está tudo acabado entre nós!
      Pois é,  perdi a namorada, mas mantive o meu segredo...
      Eu só tinha um par de meias, e destas, quase só restava mesmo o cano! Do peito do pé em diante era um buraco só. Não poderia tirar os sapatos na frente da deusa..
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Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 03/09/2009
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T1790464
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