Doido mas nem tanto

Nos tempos de minha avó; não, não era nos tempos em que galinha ciscava pra frente, como você pensou aí não; era nos tempos em que algumas das mulheres costumavam a mijar de pé por está sempre com pressa pra alguma coisa; por terem preguiça de se agacharem e, é claro, por estarem sempre sem calcinha.

Mas como eu dizia: nos tempos de minha avó, era um tempo em que nos interiores morava-se em casarões coberto com palha e paredes de taipa com enormes varandas e grandes bancos em volta aonde quem chegava podia sentar-se e até tirar um cochilo. Tempos em que a assinatura de um homem era a sua palavra; e uma das suas maiores vergonha era ser chamado de corno.

Era também um tempo em que as mulheres sentiam orgulho de dedicar-se apenas a cuidar da casa, do marido e dos filhos; e um dos seus maiores temores era cair na boca do povo e ser chamada de safada; Pois na época, safada era um dos piores nomes que se podia chama a uma mulher. Contudo mesmo não gostando do adjetivo, muitas mulheres acabavam por esquecer que alem desse nome que lhe era conferido, os maridos “corneados” costumavam lavar sua honra com sangue. Era aí que entrava em cena a inteligência espantosa de algumas.

O ano?... O ano eu não sei!... Também aí já é querer demais, eu não estava lá!... Minha mãe era só uma menina. E minha avó... Bem!... Esse acontecido não foi com a minha avó; não comece a procurar “escama em ovo”, nem “chifre em cabeça de cavalo”. Mas voltando ao assunto: dana Silmara, que como já falei não era a minha mãe, nem a minha avó. Senhora recatadissima; esposa dedicada; fidedigna. Fidelíssima ao marido! Em seu confortável e recém comprado colchão de palha, na época muito chique, resolveu dar um show a parte.

Da varanda podia se ouvir um rangido estranho, hora lento, hora acelerado; meio ritmado. Não chegava a ser nem uma sinfonia de “Beethoven”, mas que era clássica era!... Intercalando a isso podia se ouvir um som alongado, trêmulo, um tanto agudo e ao mesmo tempo melodioso que deixava o ambiente propicio a qualquer sanguíneo pegar fogo; a única diferença entre o som ouvido e o som de uma opera de “Mozart”.

Na varanda, deitado em um dos bancos, com o olho grudado em uma fresta na parede, estava Sebastião. Esse, um jovem senhor de aproximadamente 45 anos que por ter problemas mentais vivia a vagar; dormia nas varandas das casas por onde passava e encontrava um banco. Todos já o conheciam; ofereciam comida e, por lá ele ia ficando. Ele chegava de mancinho e encostava sem pedir e sem fazer barulho, por isso dona Silmara não imaginou que ele estivesse ali exatamente naquele momento e, só percebeu a sua presença quando ao final do seu trabalho saiu fora. E logo começou a pensar no que aconteceria se ele resolvesse contar tudo o que viu? Ele era doido, mas alguém podia acreditar!

- Estamos mortos!... -Ela exclamou, correndo de um lado para outro do quarto.

Damião já lançava mão do facão pra se defender, pois sabia o que os maridos traídos costumavam fazer.

- Se tem que morrer alguém que seja o tem marido!...

- Não!... Ninguém vai morrer, tive uma idéia! – Saiu lá fora o doido já estava a dormir, então voltando pro quarto pegou o pinico, bem típico da época, falou qual era a sua idéia. Damião achou meio estranho, mas concordou. Subiu na casa; abriu vários buracos na palha e despejou o pinico cheio de merda diluída em água lá de cima pra baixo, que caiu sobre Sebastião como uma enxurrada; o qual acordou apavorado, pois em toda a sua vida nunca havia visto uma chuva de merda.

Dias depois, lembrando do acontecido e sentindo se incomodado, Sebastião resolveu contar o que viu; como ele nunca tinha sido de falar bobagem sobre a vida de ninguém, nem de inventar conversa sobre nada, algumas pessoas se reuniram para decidir se contavam ao marido traído. Após decidirem chamaram Sebastião e perguntaram:

- Você se lembra direitinho o dia em que aconteceu isso? – Sebastião os encarou com firmeza e respondeu sem sombra de dúvidas:

- Sim, eu me lembro. Foi no dia daquela chuva de merda!...

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Eita que mulher sabida /// De bastante lucidez /// Pra não se dizer perdida /// Nem perder a altivez /// Demonstrando não ser lerda /// Fez uma chuva de merda /// Salvar a merda que fez ============= Fantástico Cécera. Beijos no coração!!!

******************************************************** Comentário enviado per Heliodoro Morais, em 07-10-2009 *****

Obrigada amigo. Você é especial!...

Cícera Maria
Enviado por Cícera Maria em 06/10/2009
Reeditado em 08/10/2009
Código do texto: T1850465
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