UM NOME APROPRIADO!
Gustavão,bicheiro recém elevado a milionário,começava timidamente a freqüentar rodas sociais,temeroso e tímido graças aos seus escorregões na língua materna e na etiqueta social;porque de língua,dizia-se que entendia muito,tanto que era chamado “língua de prata” pelas excelentes meninas da Lapa,autoridades no assunto.Quanto à etiqueta,podia não saber usar um garfo de peixe e costumava beber a lavanda oferecida aos convidados para lavar as mãos nos jantares luxuosos,mas,as etiquetas de suas roupas importadas,faziam inveja até aos banqueiros de São Paulo.
O rapaz não tinha só essas qualidades; adorava pagar bebidas caras a escritores e jornalistas,gente que adora uma “boca Livre” e costuma endeusar nos seus artigos os sujeitos que lhes proporcionam essas mordomias,incabíveis nos seus modestos orçamentos.
Por isso a novidade repercutiu (palavra que está muito na moda agora entre os jornalistas d Globo)como uma onda benéfica nas redações dos principais jornais cariocas,desde o”O Dia” até  “A Última Hora”,sem esquecer” O Globo” e o decadente “Jornal do Brasil”:Gustavão mandou construir um iate artesanal,cujo luxo estava sendo cantado em prosa e verso pelos construtores,gente muito hábil em construir saveiros de alto luxo e muitos cifrões , em Valença,na Bahia.
A inauguração seria “al maré”,singrando as ondas da Marina da Glória até Angra,paraíso dos milionários,tudo regado a scotch legitimo e ,para os menos puristas,a melhor cachacinha de Pernambuco e a cachaça de cabaço de Santo Amaro,no Recôncavo.
A turma,eufórica,enfim se reuniu para a partida e conseqüente inauguração,o barco já batizado pelo chefe de polícia do Rio e senhora,com duas garrafas de “Veuve Cliquot”atiradas ao casco,com boa pontaria,não fosse o chefe desmoralizar a polícia,que,para isso,não precisaria dessa ajuda.
De repente, Gustavão soltou um grito dolorido que repercutiu(ela,de novo,tenho que assistir menos a Globo News) nos ouvidos ainda quase sóbrios dos convidados.
-Teria o homem enfartado!?
Não, a questão não era médica e sim,moral.O barco ainda não tinha nome.Como levar aos reinos de Netuno um barco pagão?
Os nomes mais oportunos já batizaram outros antecessores :”Leão dos Mares”,”Dono das Águas”,”Filho de Yemanjá” e até “Cu de Boi”,de um certo filósofo baiano,irreverente e atrevido.
O relógio já batia as onze horas e nada da excursão começar,o dono taxativo:-sem nome,não sai.
Foi ai que um intelectual,mesmo sem gritar- eureka- resolveu o problema.
-Todos os passageiros gostam de mamar numa garrafinha,não gostam? -Claro,responderam.Gostamos e muuuito.
-O barco é de madeira,certo?-Sim,tudo menos as velas.
-Flutua?
-Esperemos que sim.
-Então, gritou,triunfante.Tá batizado.
Todos abriram a boca na expectativa.Fez-se um grande silencio antes de fazer-se a luz.
-Qual é o nome?- -Pau D’Água
E assim foi batizado. Com um porre que durou três dias e três noites.






Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 26/10/2009
Código do texto: T1887517
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