DEU JACARÉ

“- Doutor, eu estou vendo um jacaré lá em casa. Parece loucura, mas o bicho está lá!...”, disse o paciente ao seu psicanalista.

O médico observou-o atentamente e pensou lá com os seus botões:-“Mais um caso de “delirium tremens”. O sujeito já está vendo cavalo voar!...”

“- Meu amigo, vou lhe passar este remédio. Tome um comprimido pela manhã e volte aqui dentro de trinta dias, ok?”

O cidadão guardou a receita, agradeceu, pagou e retirou-se. Foi até Copacabana, apanhou algumas camisas encomendadas ao seu alfaiate, passou na farmácia, na “Colombo”, onde lanchou, e foi direto pra casa.

Após um mês voltou ao psicanalista, o qual foi logo indagando:-

“- E aí, Tancredo? Como está passando? Você melhorou?...”

“- Ah, doutor, tudo na mesma. Continuo vendo o jacaré.”

O médico balançou a cabeça, tomou o bloco do receituário, rabiscou alguma coisa e lhe entregou, dizendo:-

“- Olha aí, você vai ingerir dois comprimidos:- um de manhã, no café, e outro à noite, após o jantar. E quero vê-lo daqui a vinte dias, tá certo?”

Transcorrido esse prazo o nosso homem retornou ao consultório do psicanalista. Ao ser atendido, o médico perguntou-lhe:-

“- Como está, Tancredo? Tudo legal?”

“- Ah, doutor, negativo! Tudo na mesma. O jacaré ainda está lá. Eu o vejo todo santo dia!...”

O médico emitiu outra receita e entregou-lhe, meio que contrafeito, impaciente:-

“- Olha aí, você vai tomar agora três comprimidos:- pela manhã, à tarde e à noite. E me volte aqui dentro de dez dias, ok?”

Tancredo levantou-se, meio descrente, nem se despediu do médico. Simplesmente deu as costas e saiu.

Passou-se uma semana e o psicanalista foi visitar um paciente idoso no Leblon. Ao regressar da visita, passou por uma bela praça arborizada e notou um rebuliço do outro lado, próximo a um prédio de seis andares, onde um aglomerado de curiosos rodeava carros do Corpo de Bombeiros, do Resgate e da Polícia.

“- O que está acontecendo por aqui?”, perguntou a um dos presentes.

“- Tão dizendo aí que um jacaré comeu um cara lá na cobertura, sacou?”, devolveu o cidadão.

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RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 05/11/2009
Reeditado em 05/11/2009
Código do texto: T1905662
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