OLHO GRANDE

Laurinha, ninfeta de 16 anos, entrou em casa aflita, logo após a chegada do colégio e foi direto à cozinha falar com a mãe, Dona Zefa, envolvida no preparo do almoço frugal :-

“- Manhê, estou preocupada. Minha regra não veio este mês, está com atraso de mais de vinte dias ... O que eu faço?”

A dona de casa levou um susto:-

“- Laurinha, pelo amor de Deus, minha filha! Como pode ser? Eu vou até a farmácia, espere aqui.”

Lá chegando, providenciou a compra de um teste de gravidez, voltou correndo e aplicou na filha:- o resultado foi positivo e Dona Josefa quase vai à loucura:-

“- Ah, meu Pai Eterno, o Joaquim vai nos matar logo chegue da fábrica!...”

De tardezinha lá vem o Seu Joaquim, vergado sob o peso dos seus quase setenta anos e de muitas preocupações. Adentrou a casa, foi direto para o sofá da pequena sala e ligou a televisão. Dona Josefa se aproximou, enxugando uma panela e arriscou:-

“- Meu velho, estamos com um problema sério. Precisamos conversar ...”

“- Ah, Zefa, para com isso! Já tenho problema demais, cê não acha? Dá um tempo, tá legal? ...”

E a mulher, com muito jeito e mais medo ainda, contou-lhe acerca da situação de Laurinha. O homem desligou a TV e deu um salto felino do sofá:-

“- Ah, não! Quem foi? Eu mato o desinfeliz! Quero saber, quero conhecer!...”

A Laurinha veio lá de dentro e se dirigiu ao telefone, fez uma ligação rápida e disse ao pai, vermelho e já quase possesso:-

“- O senhor vai conhecê-lo, pai. Dentro de meia hora ele chega aqui.”

O velho se jogou no sofá e Dona Josefa disse que iria preparar a sua janta. Ele retrucou com rispidez:-

“- Não quero janta merda nenhuma, Zefa! Vou curtir minha raiva. Hoje eu mato esse filho-da-puta!...”

Daí a exatos trinta minutos encosta frente à humilde residência uma “Ferrari Testarosa” vermelha, desce um coroa enxuto, cabelos prateados, todo esportivo, de branco, e cheio dos ouros:- cordão, anéis e relógio.

Adentrou a casa, cumprimentou educadamente e falou, tranqüilo e sereno:-

“- Seu Joaquim, vamos direto ao ponto:- casar eu não posso, pois já tenho família constituída. Mas, não se preocupe, dou toda a cobertura. Se for uma menina, garanto os estudos até a Universidade, dou um apartamento mobiliado na zona sul e abro uma poupança de quinhentos mil dólares. Se for um menino, passo uma fazenda de gado leiteiro no Mato Grosso, uma casa mobiliada na Pampulha e abro uma poupança de oitocentos mil dólares! Agora, se for um aborto ...”

Nesse exato momento o espantado Seu Joaquim, agora já de pé, de boca aberta, acercou-se do elegante coroa, botou a mão no seu ombro com certa intimidade de sogro preocupado com o futuro da filha e falou, alto e bom som:-

“- Doutor, se for um aborto o senhor come ela de novo!...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 11/01/04

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 11/12/2009
Código do texto: T1971779
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