A traição da gentileza
A oportunidade que tanto esperava, chegou. O Zé (assim era chamado o José) criado em uma cidadezinha, no interior, foi convidado pelos parentes para ir a uma solenidade, onde um deles seria homenageado.
A família tratou de arrumar uma mala, uma roupa nova, sapatos e tudo o que era preciso para que o Zé não passasse vergonha junto aos parentes mais finos, que já moravam na cidade grande.
No dia marcado, lá foi o Zé, de ônibus para a capital. Os parentes o apanharam na rodoviária e dali prá frente tudo ficou diferente mesmo...um novo mundo para o Zé...e era um mundo real!
O Zé não se cansava de olhar para os prédios altos, a multidão nas ruas, a quantidade de carros, os sinais...tudo que só havia visto na tv.
Chegaram no prédio, o porteiro abriu a porta com o controle e o Zé já ficou desconfiado...como poderia ser? Como ele nem levantou-se da cadeira para abrir aquela porta? Mas para não ser considerado "bocó", não perguntou nada.
Chegaram em frente a outra porta: o elevador! Viu quando apertaram o botão que acendeu e começou a marcar números...esperou. O negócio era esperar para ver o que aconteceria, pois para ele tudo era surpresa! A porta se abriu e todos entraram. De repente o elevador se moveu e o Zé deu um grito: -Ai meu Deus do céu! E riram... -Não tem problema, Zé...é assim mesmo, ele se move para nos levar até o andar onde nós moramos! Um alívio tomou conta dele, mas sozinho, nunca entraria naquele "troço"... que susto!!!!!
À noite, se arrumaram, depois do jantar, para irem à solenidade.
Zé era muito gentil...gostava de agradar as pessoas. Sempre servia algo ou cedia o lugar, oferecia uma flor, dizia palavras doces. Tinha um olhar amigo, de alma pura, de amor no coração. Nunca faria mal a ninguém, nem enganaria ou trapacearia. Um bom sujeito, confiável! Mas a gentileza o traiu!
Chegaram e desceram do carro. Mas, antes que seus parentes, todos elegantemente vestidos e as muitas autoridades entrassem no local do evento, o Zé, apressadamente, tomou-lhes a frente e, pelo lado direito fez o gesto rápido de estender a mão para abrir a porta...quando notou que faltava a maçaneta.
Com seus olhos arregalados e muito sem graça, sorriu desapontado!
As pessoas entraram, sorrindo com o acontecido!
Seus parentes os esperaram...
O Zé não sabia daquele detalhe: era pisando no tapete que acionava a abertura daquela porta!
O Zé, coitado... quase morreu de vergonha!
Tirou então a conclusão... melhor esperar, observar, conhecer...para depois agir.
Uma lição que muitas vezes esquecemos, no dia a dia... mas sempre podemos perdoar os pequenos deslizes, quando as boas intenções os superam!