Bêbados
Um homem andava solitário pela rua. Era noite e só se ouviam os ruídos do silêncio dovazio. Mas, ao chegar perto de uma rua fechada, avistou dois bêbados, e se pôs a ouvir a conversa.
- Ói, como eu lhe disse, a sociedade vive hoje um momento de precariedade no ápice de sua angústia preliminar quando se diz respeito ao egocentrismo da padronização em que se apresenta.
- Mas tu é burro mermo... A sociedade já foi padronizada, mas antigamente. Hoje o que prevalece é o esteriofato de...
- "Esterio" o que?
- "Fato"! esteriofato de que em ambiguidade tudo pode voltar a ser o que era antes.
- Enche o copo aqui.
- Cabô. A garrafa tá vazia.
- Já? Só bebi dois copinho.
- É assim mermo. A gente nem vê a hora que acaba, só vê a hora que termina.
- Ah...Sim, mas eu esqueci de te dizer um negoço. A cura para todo o mau, é o bem. E Para todo o bem, é todo o bem e mais um bocadinho.
- Mas num se esqueça de que além do mau, temos os... os... como é mermo?
- Os depósitos?
- Não, não...temos os...os...
- Os...?
- Os bem!
- Ah!
- É!
- "Esterio" o que mermo?
- "Fato", esteriofato!
- Hum...
- Mas me diga. Além de suas emoções, o que tu sente por dentro quando ouve a palavra "Cartazes"?
- Ih, nessa você me pegou. Acho que, assim, depois, por via das dúvidas, sinto uma emoção.
- Que tipo de emoção?
- Assim, por via das dúvidas, diferente.
- Hum, sei bem como é.
- Ô!
- Lembra daquele dia que o ladrão roubou a velhinha?
- Que dia?
- Hoje, nestante, lembra?
- Não. Como foi?
- Foi assim: Tu tava andando na calçada procurando o mercadinho de Tontóin, aí o cara tombou em tu, na mesma da hora que tomou a bolsa da velhota. Aí depois tu veio aqui e
me contou o que tinha acontecido.
- Num lembro não.
- É, nem eu... que pena.
- É pena mesmo.
- Me diga uma coisa. Tu acha que as barreiras que separam as classes sociais do homem são derivadas da fotossíntese, ou da reprodução assexuada?
- Ih, nessa você me pegou. Acho que, por via das dúvidas, da fotossíntese né?
- Por que tu acha?
- Porque, sei lá, chutei.
- Ah, mas num é não. São derivadas da reprodução assexuada.
- Ah...
- É!
- Enche o copo aqui.
- Cabô. Ó.
- Ih, tou apertado pra mijar.
- Vai lá!
- Será?
- Vai!
- Rapaz...
- Vai!
- Vou prender.
- Rapaz...Num vai te fazer bem.
- Mas se com dinheiro quando a gente tá apertado, num faz bem prender?
- É, pensando por esse lado, fingindo que são a mesma coisa, então é melhor prender.
O homem que estava observando até o momento, já esquecido na estória, foi-se embora, já que não fazia diferença nenhuma. Mas os bêbados continuaram.
- Rapaz, minha bexiga tá doendo.
- Rapaz...
- É sério, vou mijar.
----ziiiiiip...shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, sacode, sacode, sacode...ziiiiiip----
- Mijou?
- Mijei!
- Tô preocupado com uma coisa.
- O que?
- A Vida né brinquedo não. A gente vive isso tudo à toa; Chega e morre!
- Mas é mermo. Eu tava pensando nisso outro dia desses.
- Que dia?
- Hoje, nestante.
- Mas temos que arranjar um jeito pra Essa miserável num matar a gente.
- Mas como?
- A gente mata Ela.
- Será?
- Aí Ela não nos mata!
- É mermo. Mas e depois da gente matar Ela, o que é que a gente vai viver?
- Ah, isso a gente vê depois.
- Mas como a gente vai ver depois, se não vamos ter o que viver?
- Isso a gente vê depois também. O importante é a gente não deixar Ela nos matar.
- Tem razão. Não podemos morrer. Que prevaleca a Vida!!!
- Isso!!!
- Pois é...
- Rapaz, eu tava lembrando do que aconteceu com tu naquele dia...
- Que dia?
- Hoje, nestante.
- Hum...
- Num lembra não?
- Não.
-Ah...Aconteceu que tu disse que a sociedade vive hoje um momento de precariedade no ápice de sua angústia preliminar quando se diz respeito ao egocentrismo da padronização em que se apresenta.
- Ah, num lembro não.
- Ah, que pena.
- E tu? Lembra do dia que eu tava andando pela calçada aí o ladrão roubou a velhinha e que depois eu cheguei te contando?
- Que dia?
- Hoje, nestante.
- Num lembro não.
- Ah, que pena.
- É...
- Tá sentindo um fedor?
- Que cheiro?
- De mijo.
- É verdade.
- Alguém mijou por aqui. Que porcaria.
- O mundo anda cheio de pessoas sem educação, que vivem largadas sem ter o que fazer, sem rumo à tomar. Aí se encontra a questão da precariedade das razões no momento em
que tudo se prevalece.
- "Esterio" o que mermo?
- "Fato", esteriofato!
FIM