HUMOR – Na pousada!

 

            Eu nunca vi sofrer tanto como propagandistas de laboratórios de medicamentos quando em viagens a serviço pelas cidades pequeninas do interior do Brasil.

            Pra começar eles não dispunham de carro próprio e nem as empresas forneciam condução, salvo as passagens em ônibus da linha pertinente, ida e volta, é claro. Todavia, concediam uma pequena diária para pernoite e alimentação, se necessário.

            Pois bem, acabava de ser lançado um medicamento que no dizer de todos fazia o bum-bum crescer; até mesmo engordar àquelas pessoas magricelas a fórmula ajudava, e muito, pelo menos é o que se fala e nos conta o arquivo do domínio público, aqui colocado com as nossas palavras.

            Praxedes, um sujeito jovem, doido pra progredir na vida, fora designado para lançar o novo produto lá pelas bandas do sertão brabo, muito além da cidade de Pedra do Buíque, onde o vento faz a curva, aqui no Leão do Norte.

            Pegara uma condução até o município de Arcoverde, porta do sertão pernambucano, cidade de clima frio, excelente para passeios de férias e repouso de um modo geral. De lá não houve alternativa que não alugar um jumento numa casa de pasto e seguir seu rumo, não sendo necessário falar-se do estado de cansaço em que chegara.

            Precisava ao menos tomar um banho. Onde encontrar hotel para sua estada era a coisa mais difícil, até por que não existia algum, o povoado era muito atrasado, e em sendo tarde da noite a coisa piorava.

            Depois de muito pedir informações aos nativos, ficara sabendo da existência de uma antiga pousada bem no final da avenida principal, praticamente o único logradouro público com que contava aquela população. Claro que tinha alguns becos e ruelas sem expressão.

            Apresentara-se à senhora dona do estabelecimento, justificando suas razões para o pernoite. – Meu senhor não tem vaga, os três quartos existentes estão ocupados, nada posso fazer. – Mas não poderia dar um jeitinho, a fim de evitar que eu fique no meio da rua?  Com dó daquela criatura, a proprietária lhe propôs que ficasse no quarto onde estava hospedada uma senhora com seu filhinho recém-nascido. – Não se preocupe que ela hoje teve de viajar pra visitar o marido que a deixara, a criança está sozinha.

            Praxedes agradeceu sobremaneira. – Aceito de muito bom grado, a senhora acaba de me prestar um grande favor. – Tem um detalhe, como não o conheço não ficará com a cópia da chave, e uma vez fechado o quarto só sairá pela manhã para o banho e o café. – Fica combinado, vou logo tomar meu banho e me recolher.

            Foi o que fizera. A dona do negócio o levou até o dormitório, deu boa noite e fechara a porta com uma chave e um ferrolho que havia do lado de fora para maior segurança.

            Pela madrugada, o menino dormia tal qual um anjo, e o pobre propagandista com uma forte vontade de urinar se achava e aquilo era uma verdadeira situação crítica. O que fazer se o sanitário era do lado de fora, esse era o problema!

            Tentou controlar-se, de nada adiantaria se precipitar. Daí uma ideia primorosa surgiu em sua mente: Pegar a criança com muito jeito, colocá-la na sua cama, urinar em seu berço e depois retornar com o menino para o seu lugar.

            Foi o que fizera contente e satisfeito. Todavia, quando pegou o garoto pôde observar que ele havia dado uma baita cagada na sua cama...

            Acordou cedinho, tomara um rápido café, pagou a conta e foi embora sem fazer a praça, cujo comércio de remédios era uma farmácia e uma pequenina casa de saúde, morto de vergonha que ficara...

 

Em revisão.

Coincidência de nomes e lugares aqui são mera ficção.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 08/05/2010
Código do texto: T2244984
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