ELIZABETH, a estrela

Meu nome é Elizabeth McNeil. Na verdade este é meu quarto sobrenome. Nasci Stuart, ganhei um Abrahams do primeiro marido, depois fiquei com o Hoffman do segundo e atualmente sou McNeil do meu último cônjuge.

Posso definir minha vida como um perfeito conto de fadas, repleto de alegrias, bizarrices, escândalos e coisas mais. Preciso falar dos melhores momentos.

Vim de uma família aristocrática da Filadélfia e mudei-me para Hollywood na juventude fugindo da monotonia daquela vidinha para seguir a carreira de atriz. Sempre soube que tinha beleza, vocação, talento, distinção e elegância para ser como Grace Kelly, Liz Taylor, Greta Garbo, Ingrid Bergman... Eu nasci para brilhar.

Aos 20 anos, casei-me com um produtor de cinema, Robert Abrahams, que tinha só 50 anos a mais do que eu. Três meses depois ele faleceu, infarto. Não deu tempo nem de assinar meu primeiro contrato. Aquele casamento foi realmente uma perda de tempo, não valeu a pena!

Pelo menos algum tempo depois conseguiu meu primeiro papel, uma magnífica figuração de cinco segundos num filme B de ficção científica. Minha família jura que até hoje ainda não conseguiu me ver naquele filme. Puxa, eu apareço andando no meio de uma multidão e eles ainda não conseguiram me identificar? Eu merecia um Oscar por aquela estupenda atuação.

Infelizmente, para tristeza geral da humanidade, minha carreira no cinema não prosseguiu, porque os produtores foram cegos ao meu talento. Mas deixa pra lá. Eu sei que sempre mereci coisa melhor que aquela Hollywood.

Aos 22, ainda durante a minha carreira de atriz, casei-me com um aspirante a ator galã, Brian Hoffman. Depois de três dias de encontro, oficializamos a união. Uma semana depois, numa bela manhã, ele mal pôs os pés na rua e foi atropelado por um ônibus e um Cadillac. Foi uma pena ter perdido alguém que nem conseguiu enriquecer. Pobrezinho...

Depois disso, resolvi voltar para a casa dos meus pais. Eu sabia que eles adorariam ter uma estrela do cinema por perto. Mas acreditem, eles nem estenderam o tapete vermelho para me receber. Tentei dar uma de jovem quase rebelde, dizendo que se não fosse bem tratada, não daria autógrafos e voltaria para o meu estrelato. Resultado: eles nem ligaram e continuaram indiferentes aos meus ataques de arrogância. Fazer o que, se meu brilho incomodava até os meus pais.

Tentei até me lançar como cantora nas rádios, mas novamente foram insensíveis ao meu talento e perderam a chance de lançar uma estrela resplandecente.

Continuei na casa dos meus pais até os 30, quando enfim me casei pela terceira vez, com um empresário inglês, Lawrence McNeil. Tive meu único filho, Arthur, filhinho da mamãe. Depois do bebê nascer, Lawrence não agüentou mais minha doce personalidade e pediu o divórcio. Só que o coitado levou o maior tombo na escadaria da mansão. Foi-se meu terceiro e último marido.

Enfim, desde lá não me casei mais, apesar das centenas de propostas de bilionários que se encantam por mim até hoje. A mais recente foi a de um bilionário russo de 100 anos (não quero esses velhos, prefiro os novinhos). Passei a mimar meu querido Arthur, e tudo que ele pede, eu nunca nego. Afinal ele é tão parecido com a mãe, em beleza, talento e brilho. Só não gosto da mulherzinha dele. Logo na primeira vez que nos encontramos, ela sequer me pediu um autógrafo. Imagine só se uma simples mortal como aquela não se rende ao brilho de uma diva como eu.

Também não foi só ela. Já cansei de brigar com motoristas, garçons, empregados, familiares e conhecidos só por não saberem quem verdadeiramente eu sou e que me destaco mais do que eles.

Pode chamar de distinção, classe, exuberância, charme e muita, muita personalidade, mas sei quem eu sou. Tudo isso e muito mais. Tenho brilho e sou melhor que você, mesmo que não ache. Afinal, sou Elizabeth Stuart Abrahams Hoffman McNeil. Eu te desprezo. Sou uma estrela.

Renan Maia
Enviado por Renan Maia em 25/10/2010
Código do texto: T2577221
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