O VESTIDO ROSA

Era uma vez, num passado pouco distante, uma jovem brasileira bonita, esperta, formosa, loira... E que adorava boas roupas.

Sem muito esforço a bela moça conquistava os olhares masculinos e despertava a inveja das moças que não gostavam de vê-la exibindo as curvas pelos corredores da universidade onde estudava.

Num belo dia, logo cedo, ela recebeu um telefonema de uma amiga: haveria uma festa à noite com uns velhos (mas ainda jovens) conhecidos.

As horas passavam. A noite enfim chegava. Arrumou-se completamente. Cabelos, unhas, pele, maquiagem... E é claro, o vestido rosa. Ele era demais, exuberante, marcava o corpo e ainda não fora estreado. Não era só uma festa, era a festa. A primeira aparição de sua nova peça de roupa.

Só havia um porém: ela não podia faltar à faculdade naquela noite, afinal era uma aluna muito dedicada. Resultado: já ir arrumada para a aula. Ela sabia que seu visual não estava nada de mais...

Chegou lá e antes de ir para a sala, resolveu ir até um espelho. O toalete mais perto não tinha um espelho muito bom e então ela teve que atravessar o campus para ir até o outro. No caminho, os primeiros sinais começavam a aparecer: olhares, cochichos, dedos indicativos e alvoroços cada vez maiores. Correu e trancou-se aflita no banheiro.

Multidões se aglomeravam e gritavam para que saísse e mostrasse seu novo vestido rosa. Era a grande sensação.

Foram acionadas as polícias militar, municipal e federal, o corpo de bombeiros, as ambulâncias, o prefeito, o governador e o presidente da República. Todos queriam ver seu vestido rosa. O reitor da universidade, porém, não queria ver. Ele já tinha um igual, comprado em Paris.

Escoltada, a moça que sempre se declarara uma pessoa simples, marcou uma coletiva de imprensa para o dia seguinte, ganhou uma estadia num hotel cinco estrelas por quanto tempo quisesse e foi o assunto mais comentado no mundo inteiro. Todos queriam ver seu vestido rosa.

Tudo era ela no outro dia: jornais, televisão, Internet, grupos de caipiras, intelectuais, feministas e machistas e as revistas (assinou um contrato de R$ 30 milhões para posar nua, sem o vestido rosa, é claro!).

Tornara-se a celebridade mais famosa do mundo. Recebeu inúmeras propostas de casamento e aceitou ficar com um velho bilionário alemão, que todas as noites pedia para ela colocar o vestido rosa (e depois tirá-lo...). A peça foi parar no seguro e tornou-se a mais valiosa do mundo.

A universidade onde estudava mudou de nome em sua homenagem e uma grande estátua com seu rosto foi construída.

Essa era a moça que na mais pura inocência e despretensão, acabou virando um ícone de mulher e moda.

E antes que eu mesmo esqueça, ela acabou não indo à festa com os amigos, afinal o mundo inteiro queria ver seu vestido rosa.

Renan Maia
Enviado por Renan Maia em 26/10/2010
Código do texto: T2579186
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.