O CÔMICO FECHECLER

O CÔMICO FECHECLER

O ônibus intermunicipal era uma daquelas jardineiras pescoço de tartaruga, vulgo cata corno. Para pegar passageiro pára a todo instante, antes mesmo de o pneu dar uma volta sobre si mesmo, mas para estes sofridos passageiros tirarem a água do joelho, só pára nas pocilgas das rodoviárias.

Oxente seu menino o RAIMUNDO JR estava com uma vontade de mijar arretada.

Sabe como é banheiro de rodoviária? Para começar era um mau cheiro horroroso. Pois é, aquele estava uma nojeira. Para entrar ele teve que contornar o morro do Mendanha, logo na porta; dois passos adiante o lago das Brisas; sem nem ainda sair nas margens opostas, eis mais um morrote, a torre da Serrinha; e por incrível que pareça, lá estava o pico da Neblina bem no começo do mictório coletivo, anexo à porta do primeiro reservado com vaso sanitário.

Neste tipo de banheiro público você entra de dia, por não ter como se aliviar do lado de fora, coisa que à noite é praxe, como se vê pela as marcas de umidade e montes de merda, próximos à porta.

Para chegar ao dito e referido mictório, RAIMUNDO JR escalou picos, contornou morros, atravessou de vau o lago; e para suportar o odor prendeu o ar nos pulmões até roxear a face e azular os lábios. Por pouco não morreu asfixiado.

Chegou já quase urinando na calça, e para sacanear mais, o filho da puta do zíper ainda por cima emperrou, porém deu-lhe um safanão bem violento, este desceu. Ah! Que alívio! Até o ar viciado de inhaca ficou respirável.

Bexiga vazia. Balançou o pequeno companheiro para livrar a cueca de alguns possíveis pingos de mijo. Aproveitou a oportunidade, deu uma olhada nele, coisa que há muito tempo não acontecia. Na verdade não o apreciava mais em razão de que a barriga, inimiga comum, não deixava; estava sempre na frente, ou melhor, entre ele e os olhos do RAIMUNDO JR. Mas naquele momento, fizeram um esforço mútuo e venceram-na. RAIMUNDO JR de sua parte murchou-a ao limite, tanto prendeu a bicha lá no fundo que quase deu vertigem, e ele (bilau) por sua vez levantou a cabeça por alguns segundos. RAIMUNDO JR sorriu amarelo para ele, que se retribuiu não percebeu, pois foi tudo muito rápido, em frações de segundo, nem se despediram.

O pequeno companheiro foi colocado dentro da cueca, esta para dentro da calça. E como o zíper havia criado caso para abrir, RAIMUNDO JR pensou que o mesmo não iria fechar facilmente. Puxou com força suficiente para fechar ou arrebentar. Não aconteceu uma coisa nem outra.

- Ái! Ái! Ái!

Gritou feito louco.

O miserável do fechecler pegou o pano da cueca juntamente com a pele do desprezado; e como as duas juntas formaram um volume em excesso, não deu outra, ficaram presas.

No momento, parecia que além dele, só estava ali naquele ambiente perfumado, um senhor de óculos escuros, com um pedaço de ripa na mão, o qual ele, ao ouvir os gritos, brandiu-o em na direção do RAIMUNDO JR, acertando-o em cheio na testa, com a dor no pinto abaixou a cabeça, no intuito de aliviá-la.

Ao bater-lhe, o senhor que era cego, RAIMUNDO JR soube depois, também gritou:

- Comigo não! Se afaste satanás!

Também pudera, o coitado havia sido violentado num ambiente como aquele, tempos atrás, exatamente após ouvir os mesmos lamuriosos gritos proferidos pelo RAIMUNDO JR.

Ledo engano; não estavam sozinhos, outro infeliz que aliviava a barriga, no primeiro cubículo adjacente ao mictório, ao ouvir a bagunça e os gritos, mesmo com a calça arriada, mal abriu a porta do reservado e aos trancos e barrancos tentou vazar dali. Mas tropicou no pico da Neblina, escorregou na torre da Serrinha e literalmente voou, porém se espatifou no lago das Brisas.

No tombo o sujeito formou uma meleca de mijo e bosta, a qual esparramou para todos os lados, acertando o cego no peito e na face esquerda; que ele limpou com a mão e cheirou para se certificar do que era. Ao RAIMUNDO JR acertou apenas no quadril esquerdo, o que só veio a notar longe dali.

Com a zorra criada pelo cego e o cagão, quase também foi esquecido a piroca presa no zíper, só que a dor não deixou. Com a mão esquerda RAIMUNDO JR segurou calça, cueca, saco e pinto; e com a direita se aferrou firme na pequena alça do zíper, fechou os olhos, serrou os dentes, implorou aos santos e anjos de guarda para atenuar o sofrimento; e forçou com ímpeto os braços em sentido contrário.

Novamente gritou:

- Ái! Ái! Ái!

A dor foi alucinante, mas a porra do troço não moveu um milímetro se quer.

Neste meio tempo o cagão se levantou e acalmou o cego.

Era cômica a aparência deles, mas quem sorri com o bilau enganchado num fechecler.

Quando precisa RAIMUNDO JR é cara de pau. O jeito foi pedir socorro aos dois.

Prontificaram-se.

Instruiu o cego de como ele devia segurar os apetrechos orgânicos; e o indivíduo azarado, se bem que o azarado ali era ele; ainda com a bunda e o freza de fora, pegou no zíper com as duas mãos.

No que estavam naquela luta inglória, entraram dois play boys, viajantes vindos da capital. Ao verem o que pensaram que estavam vendo deram gargalhadas e recuaram conversando entre si:

- Você viu? Um cara com a calça nas canelas segurava o pau de outro para um cego chupar?

- Só na rodoviária de Gorobixaba para acontecer uma coisa destas!

(dezembro/1989)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 20/04/2011
Reeditado em 20/04/2011
Código do texto: T2919846
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