APRUMA RUMO   

Conta-se que no interior do Nordeste, Paraíba, Pernambuco, Ceará, sei lá, chegou naquela época numa cidadezinha uma diligência. Para quem não sabe, " diligência" era um grupo de policiais que saíam em busca de criminosos, que se encontravam foragidos em outras localidades!
           Pois bem. Chegando naquela cidade, o coronel, homem valente e conhecido em toda a região por várias situações enfrentadas, resolve entrar na barbearia de Zé Calango, assim conhecido por ter no corpo umas listras e que nunca explicara a origem! Entra, senta na cadeira de barbeiro e como era de pouca conversa diz:
- Tira a barba!
Fecha os olhos e relaxa, esperando o comprimento de sua ordem!
Zé Calango imediatamente reconheceu o algoz de sua vida, o homem que muitos anos atrás fizera as marcas no seu corpo, quando ele embriagado fizera uma arruaça na cidade do coronel, resultando que antes de prendê-lo o coronel o pegou com um pedaço de borracha de pneu de caminhão que chamava de “Apruma rumo” e, no meio de toda a população, deu-lhe a devida correção! Resumindo: Uma grande surra!  
O que fez com que Zé adquirisse as marcas do corpo que na próxima cidade o caracterizavam por calango. Resolveu Zé mudar de cidade, já que era gozado por todos, tamanha a surra que levara...!
Mas, como o destino era irônico, estava agora em sua frente, sentado e desprotegido o tormento de sua vida, aquele que transformara e envergonhara o seu futuro e roubara muitas noites de sono, e por quem alimentara tanto ódio e rancor!
Zé Calango pegando espuma espalhou sobre o rosto do coronel e com uma navalha, amolada naquele momento cem vezes mais que o normal, resolveu travar um diálogo com o coronel, enquanto a navalha deslizava lentamente, mais bem direcionada à jugular do seu algoz!
- Coronel, o senhor lembra, coronel... daquele rapaz que muitos anos atrás fez uma desordem no bar de “Maria Preta” lá na sua cidade?
- HURUMMM, respondeu o coronel, sem nem menos abrir os olhos!
Naquele momento o barbeiro para a navalha bem ali onde encontra o pescoço com a cabeça, pressiona a dita bem onde está a jugular do coronel e diz:
- Eita, coronel... O senhor deu uma surra muito grande nele, num foi, coronel?
- URUMMM, respondeu o coronel ainda de olhos fechados.
Zé Calango, agora com os olhos amarelados pelo ódio com a outra mão segura firme a cabeça do seu tormento e diz:
-  Coronel, aquele rapaz sou eu!!!
O coronel abrindo os olhos olha firme nos olhos de Zé Calango e diz:
- Pois termine bem a barba, senão vai levar outra surra daquela!!!
Fecha os olhos e escuta:
- Sim, senhor, coronel, sim, senhor!!!

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