O GRANDE JURI

Em um julgamento ocorrido no interior de São Paulo, o Promotor de Justiça chama a primeira testemunha de acusação, Dona Santa, uma venerável velhinha de noventa e tantos anos, conhecida de todos cidade.

Ela fora testemunha em um crime e o promotor para começar a construir sua linha de argumentação pergunta à doce velhinha:

“Dona Santa, a senhora me conhece, sabe o que eu faço e da minha respeitabilidade, o que pode dizer a meu respeito?”

“Claro que eu o conheço Robertinho. Posso chamar você de Rola-Bosta? É seu apelido desde que nasceu, limpei muita fralda que você sujou. Cagão como nenhum outro bebê que conheci. Pensei que você ia dar coisa que prestasse, como professor ou padre, mas não, arrumou esse negócio de caçar encrenca com a cidade toda e se acha o muito bom. Vive enchendo o saco de todo mundo se acha o farol de honorabilidade. Mas nem sabe que a sua filha está grávida do filho do açougueiro, aquele moleque que só presta pra ajudar o pai a roubar gado.”

O Promotor ficou pasmo.

Nem sabia o que dizer.

Para tentar consertar o estrago fez outra pergunta:

“A senhora conhece também o advogado, aquele ali de bigodes, o que pode dizer a respeito dele?”

“O Queima-Rosca? Claro que conheço. O nome dele é Adalberto, mas ninguém chama ele pelo nome verdadeiro. Tomei muito conta dele. O pai viajava e a mãe saia pras baladas arrumar homens. Só chegava no dia seguinte. Bebada feito uma vaca! Ele sempre foi preguiçoso e colava na escola. Mocinho foi trabalhar na padaria do Vavá e andou fazendo umas coisas moderninhas que Deus me livre lembrar! Hoje ele segue o exemplo da mãe, sai por ai à noite atrás de mulher e outros bichos. Nem sabe que a esposa dele é uma galinha e dá pra cidade inteira!”

Todos arregalaram os olhos no tribunal.

Esperaram alguma providência do Juiz.

O Juiz respirou fundo, chamou o promotor e o advogado pra perto e advertiu:

“Se algum de vocês perguntar pra esta velha filha da puta se ela me conhece eu mando prender todo mundo neste Tribunal !!”.

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Sajob - agosto / 2011