CUNQUISTANO A LIBERDADE (EC)

- Cumpade! Acorda!

- Peixe na vara?

- Não!

- Levaro a isca?

- Não!

- Então que foi?

- Tava pensano... Nossas pescaria tão muito fraca, num acha?

- É cumpade! Os rio ta secano!

- Deve ser a tar de poluição...

- Logo num vai ter mais pexe...

- E nóis num vai mais ter assunto pra conta mentira...

- Nem desculpa pra saí de casa...

- A muié anda desconfiada que num venho pescá...

- Tamém nóis num leva quase nada de pexe...

- A cumade num recrama? Fica falano que nóis tá mentino?

- Dá graças a deus que eu saio...

- Antes fosse assim em casa! Se eu não saí, a cumade manda eu fazê um monte de coisa...

- Por isso que eu saio...

- Óia a vara!

- Beliscô?

- Levô a isca...

- Então cumpade! Comeu ia dizeno... Foi difícil eu consegui a liberdade...

- Verdade! Eu cunvidava ocê pra pescá e a cumade recramava com a cumade que eu era um mau exemplo..

- E a gente se conhece desde pequininho...

- Nóis pesca muito antes de conhecê elas...

- Cume que ocê fez pra ela deixá ocê vim pescá?...

- Foi de poquinho! Cada dia eu aprontava uma!

- Como assim?

- Ela pedia preu ajudá a arrumá a cama, eu deixava tudo amarfanhado...

- Ih!

- Ela pedia preu ir na venda, eu garrava na conversa e demorava...

- E eu brigano pra podê pescá... Cada rancarrabo!

- Ocê precisa prendê a fazê as coisa de pedacinho... Lembra aquele sábado que ocê me convidô pra ir pescá no Rio Grande e ela num deixô?

- Craro!

- Ela queria que queria i na casa da sogra...

- E ocê num foi pescá memo...

- Mas foi bão...

- Brigô com a sogra?

- Craro que não!... Ocê me conhece... Eu sô lá home de brigá? E cum a sogra? Doidô?

- Que ocê feiz?

- Pisei no barro e deitei no sofá sem tirá o sapato...

- Vixê!

- Nem tinha acabado as prestação... Quasi morri da zoiada que levei das duas...

- Levô vassorada?

- Num deu tempo... No primeiro grito, eu saí pra fora... Craro que pisano no tapete...

- Eita hómi de corage...

- ......

- Mas o que isso tem com nossas pescaria?

- Dexa contá... A sogra deu um berro com a muié: pruque ocê num manda esse sujeitim i pescá... Falei pra num casá cum ele...

- Daí ficô faci...

- Quasi! Fiquei uns dois meis drumino no sofá...

- Ai! Cum sapato?

- Ocê doidô? Num tinha cabado de pagá minhas prestação... Até hoje deixo o sapato lá na porta...

- Ficô educado, hein!

- Digo que sim, mais eu pensei: Se eu num entrá sempre de sapato, sem fazê baruio, ela costuma e quando eu chegá tarde ela num acorda...

- Despois diz que nóis é troxa...

- Só cos pexe! Levarô tua isca!

- Acho que cabô meu mio... Ocê ainda tem aí?...

- Tem poquinho... Pode pegá!

- Cumpade!

- Que foi?

- Tava pensano!

- Diz logo!

- Ocê tem razão!... Num percisa tê pressa prá nada... Qui tem qui contecê, contece...

- Mais percisa dá uns empurrãozinho... Bem devagarinho... Vamindo?

- Vamô, qui já tá noitecendo e percisamo levantá cedo prá vim pescá...

- Antes que cabe o pexe...

- E nossas descurpa pra proseá...

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Este texto faz parte do exercício literário Encanto das Letras

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 19/08/2011
Código do texto: T3169056
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