Acidente Sideral

Na bodega do Zé Mucura, em alguma cidadezinha do interior de Rondônia, dois sitiantes, um gaúcho e um paraibano, se encontram numa manhã de sábado em dia de feira.

-Mas bah, tchê! Como estás, índio velho? E tua mulher? E os guri? Tão bem?

-Oxente, home! Tamo tudo no jeito, visse? Eu, e os minino pequeno! Mariquinha, minha muié, não! Morreu, visse?

-Bah, tchê! Como morreu? Inda semana que passô tumemo um café junto, índio velho! Eu, minha patroa e ela, tua mulher, tchê!

-Pois é, meu cabra! Mariquinha morreu! Tamo tudo de luto!

-Morreu como, índio velho? Mordida de cobra? Marrada de boi alongado? Caiu no poço? Coice de mula xucra? Maleita

-Não, home! O delegado que tá cuidando do caso dixe que foi um tar de acidente sideral... Ele me dixe qui’é mais fácir ganhar dez veiz na “mega sena” duquê morrer desse treco, acidente sideral.

-Índio velho, meu amigo! Sideral... Sideral... Num tem alguma coisa a ver com o céu... Espaço fora da terra?

-Intonce! E num é isso mesmo!

-Mas... Mas... Mas bah, tchê! O que é que tua patroa ‘tava fazendo no céu... No espaço? ‘Tava viajando de foguete, é? ‘Ta podendo, hem compadre! E depois fica negando fogo... Negaceando posse... Negaceando dinheiro!

-Dêxe de bestagem, home! Num é nada disso, não! É culpa dos americano! Foi um pedaço dum tar de satélite duma mulesta duma NASA qui dispencou lá do céu bem em riba da minha casa. Caiu bem em riba da cozinha... Bem na hora qui a Mariquinha ‘tava fazendo a bóia do armoço.

O gaúcho ouvindo as explicações do amigo arregalou os olhos em uma clara demonstração de espanto e exclamou:

-BAH TCHÊ! Que baita azar da gota serena! Ôxe!