O BÊBADO SEM DINHEIRO QUERENDO ENTRAR NO CIRCO

Na década de 1950 antes da popularização da TV, o hit da época era ouvir rádio. Quem tinha um receptor de rádio em casa, era como se tivesse hoje um carro importado. Só os ricos tinham. Eu e minha mãe todas as noites íamos à casa de uma tia ouvir as novelas de Amaral Gurgel ou de Janet Clair.

Ás vezes saíamos debaixo de chuva para não perder os capítulos. A gente só via os artistas e os cantores em revistas. Muitas vezes quando tinha um circo na cidade e eles contratavam duplas sertanejas, havia filas de dobrar quarteirão. Todos querendo ver e ouvir ao vivo os cantores do rádio.

Entre os amigos de meu irmão mais velho, tinha um, sujeito afável e brincalhão, mas quando bebia uns goles, mudava radicalmente: ficava agressivo, valente, encarava até a polícia. Vivia apanhando da polícia, aí ganhou um apelido que grudou igual visgo: Cassetete. Ele não se incomodou com o apelido e os amigos fizeram um hipocorístico: o Cassetete virou Cacête. Ele se acostumou tanto que chamava a si próprio de Cacête. Ele dizia:

-Paga uma pinga pro Cacête...

E assim foi. Certa vez no Circo Irmãos Elias, um dos mais famosos de nossa região, em passagem pela cidade, contratou o humorista, cantor e apresentador de programas “Del Mário”, da rádio Inconfidência de Belo Horizonte. Foi um corre-corre na cidade, nas cidades vizinhas organizaram especiais de ônibus para o show. O circo estava lotado. Cacête bebeu bastante e gastou todo seu dinheiro. Completamente bêbado, foi para a porta do circo, procurando algum colega para lhe emprestar o dinheiro da entrada. Logo apareceu um conhecido. Ele disse:

-Paga o ingresso do Cacête... O ingresso custava dez cruzeiros, o rapaz só tinha quinze. Comprou seu ingresso, deu cinco cruzeiros para o colega e disse:

-Veja se arranja os outros cinco cruzeiros, se não arranjar, espere o espetáculo começar e peça ao porteiro para entrar pelos cinco, eles costumam deixar.

Ele esperou chegar algum conhecido para “serrar” os cinco cruzeiros restantes, não apareceu nenhum. Minutos depois de começar o espetáculo, ele foi à portaria, o porteiro havia pedido a esposa do dono do circo para substituí-lo por um momento para ele ir ao banheiro. A sisuda senhora ficou lá em pé em frente à entrada. O rapaz chegou trocando as pernas e com voz pastosa característica de bêbado disse:

-Dona, o Cacête ta duro, dexa o Cacête entrá por cinco...

Não deu outra, ela chamou a polícia e tome outra surra de cassetete...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 27/02/2012
Reeditado em 05/03/2012
Código do texto: T3522614