O Gênio Otário


O homem, vítima de um naufrágio, estava há vários anos vivendo numa ilha deserta, quando, destampando uma garrafa esquisita, que uma forte onda jogara na areia, libertou um gênio, que lhe falou, curto e grosso:
- Podes pedir o que quiseres, mas só um pedido!
- Um só? Mas é costume os gênios concederem três pedidos!
- Isso é nos livros de histórias, cara. Comigo é um só. E diz logo qual é o teu, que estou com pressa, pois há 1.327 anos que não sei o que é uma mulher!

O homem pensou rapidamente. Além de sair dali, desejava ser rico e bonito. O gênio podia podia operar qualquer milagre, mas através de um pedido só. Sair dali, um pedido; ser rico, dois pedidos; ser bonito, três pedidos. E só poderia fazer um! Sair dali, mas pobre e feio, não era uma perspectiva muito agradável para ele; por fim, de que lhe serviria ser rico e bonito, se continuasse ali?

Ora, antes de ser vítima do naufrágio, o homem fora escritor e poeta, e sabia, portanto, manejar as palavras. "Esse gênio tem cara de otário", pensou, e com uma sensação de vitória estampada na face, fez um só pedido:
- Tire este homem rico e bonito daqui!
- Seja feita a vossa vontade, meu amo - respondeu o gênio, com um sorriso irônico nos lábios.

E, de repente, não mais que de repente, o homem se achou rico e bonito, mas numa outra ilha deserta! Furioso, reclamou para o gênio:
- O que você fez, idiota? Tirou-me de uma ilha deserta, pobre e feio, e jogou-me, rico e bonito, mas numa outra ilha!
- Pois é, cara, você pediu: "Tire este homem rico e bonito daqui", mas não disse pra onde. E eu me lembrei desta ilha, que, por sinal, não é deserta, e onde o meu amigo Bocão comanda uma tribo de canibais. Boa sorte, otário!
Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 20/03/2012
Reeditado em 23/11/2012
Código do texto: T3564957
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