Ode à cerveja

Ó precioso líquido que encontra-se agora em meu domínio diante de meus olhos, envolto nesta taça, digna de causar inveja aos bárbaros e aos nórdicos. Segura agora pelas mãos trêmulas e impacientes aguardando a doce sensação do acre e encorpado sabor que contens e que só pode ser comparada ao néctar sagrado dos deuses eólicos, vinde de encontro ao teu dominante mestre, tocando os lábios sedentos e escorregando pela garganta até remontar ao inconfundível sinal de satisfação de teu consumidor, ahhhhh...

Indescritível recipiente tal qual a ânfora de Poseidon, trazendo estampado o rótulo que identifica o teu valor único e teu nível de superioridade diante das demais iguarias, a garrafa, outrora cheia encontra-se em sua última medida de sabor, eis que é chegada a hora de solicitar esta mediadora que encurta a distância entre teu amante tão assíduo e intempestivo, garçonete! Desce mais!

E esta távola onde agora consigo contar mais de sete de vocês, assim como o exército derrotado em campo de batalha, entregando-se ao domínio do conquistador, o rei do universo, o senhor supremo, cevejeiro!

E este ser que agora é o mestre inquestionável do mundo, o banheiro começa a ficar longe, ou talvez a bexiga ficou menor, enfim, começa a abater-se sobre mim um cansaço no àpice da batalha. Levanto me desesperadamente, derrubo uma ou duas garrafas, atrapalho o rapaz que jogava sinuca, encoxo a garçonete, derrubo o sorvete da garotinha que assustada chora copiosamente, até que, adentro este olimpo para uma pausa estratégica.

Tenho pressa, talvez receio que a mesa fuja ou que o boteco feche, trombo com o garçom, xingo a mesa de sinuca, dou uma topada na máquina de jukebox, tudo vale quando quero voltar à minha mesa, lá estou novamente para mais uma sessão de indescritível prazer.

Começo a falar alto, não entendo o que sai da minha própria boca, todos tem olhares reprovadores ou zombeteiros, a garçonete me atende de má vontade, esta porcaria tá quente, dou uma cusparada na camisa, (o alvo na verdade era o chão), o chão flutua diante de mim.

Fascho dxe contha que não é comigo, chamo a vadia da garshonethe mando trazer maix, a meja tá ficando pequena, meux olhosh também, maldita vontadhe dhe vomithar, quero um banheiro, shai daqui mané, shou poshto pra fora a tapax pela multhidão enfureshida, caio na calshada, pelo menux eu acho que é uma calshada...

Acordo com uma maldita ressaca, nem sei como cheguei em casa, na secretária eletrônica tem uma mensagem da Rita dizendo que acabou tudo entre nós, outra do dono do bar dizendo que conseguiu um requerimento que me proíbe de chegar duas quadras de distância do bar, e outra curiosa de um tal Hermes dizendo "me liga de novo tigrão"...