O gol que Zumbi não fez

Certa vez Zumbi, cansado de tanto sucesso, resolveu testar a recepção de sua cor e vestiu-se num traje a rigor de periferia, ou seja, de favela: peruca funk camiseta cavada “Hawai” com desenhos detalhados de grandes caveiras pretas, bermuda arrastão com enormes bolsos e tênis vermelhos de bicos chatos, acompanhado de um “walkman” com grandes fones presos nas orelhas sobressaindo suas astes fora da grande peruca amarelada.

Após percorrer quatro quarteirões de seu bairro nobre, chegou ao condomínio de número cento e quatro aproximou-se da guarita de recepção e aquele gigante de cor também negra logo ao avistar colocou sua mão no coldre de seu revólver. A seguir acionou seu rádio e chamou o outro guarda que logo ao chegar foi lhe dizendo “Hei, mala, você está fora de sua praia! Vamos circulando”.

Zumbi custou a acreditar na cena que presenciara, pois aqueles dois guardas já lhe haviam pedido autógrafos e lhe puxado o saco. Zumbi entrou em depressão e passou um longo tempo sem participar de conferências ou dar entrevistas. Zumbi agora não tem mais dúvidas, quando aquele segurança lhe ordenou “Vá circulando, a favela é mais na frente”, ele percebeu que sua cor está atrelada à favela e à periferia.

Agora quando se encontra ao lado de seus amigos engravatados e eles se esquecem de sua cor e fazem uso daquele famoso dito popular: “Urubu e guarda-chuva em qualquer lugar continuam sendo pretos”, Zumbi faz de conta que nem entendeu e sorri com os dentes encobertos e continua encarando a fatalidade numa boa!...

moraesvirada
Enviado por moraesvirada em 02/04/2007
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