A MORTE DO CELULAR  (GLUP, GLUP, GLUP)

Tem coisas que não podemos prever. As vezes, por pura distração ou displicência mesmo, mas simplesmente acontecem. Dias atrás, num domingo de sol eu separei algumas roupas e botei na máquina de lavar. Era dia de jogo, sabe como é, final de campeonato não dá pra perder. Mesmo não sendo o nosso time do coração que entrará em campo. Eu fiz todo o procedimento e programei a máquina para que a lavagem fosse perfeita e no tempo certo para terminar antes do jogo começar. Passados todos aqueles processos de enxagüe e bate e enxague e bate a máquina parou. Com estivesse dizendo que fez um ótimo trabalho. Lá fui eu pra retirar toda a roupa da máquina. Estava quase na hora do jogo iniciar e não dá pra perder o jogo por causa de algumas peças de roupa.

Só se perde um jogo desses por uma causa nobre. Mas quando peguei a bermuda notei um volume estranho num dos bolsos . Qual não foi a minha surpresa: Era o meu celular (recém comprado) num estado lamentável sem os sinais vitais e demonstrando morte por afogamento. Tentei reanimá-lo de todas as formas. Apertei todas as teclas mas não deu um sinal de vida. Abri-o numa tentativa desesperada de salvá-lo, pressionei-o o mais que pude. retirei a bateria coloquei-a novamente. Tentei dar-lhe uma carga mas nada de respostas...esgotei todos os recursos mas não teve jeito. Um tanto abatido esqueci até do jogo...

Bem, então me restou retirar o chip que parecia meio desfalecido, pálido. Precisei fazer respiração boca a boca, embora tivesse um gosto horrível de sabão em pó...mas recuperei o chip com a agenda. Pelo menos a lista de sobreviventes da agenda permaneceram, meio assustados, mas sobreviveram por puro milagre. Foi adrenalina pura por que me senti com aquela emoção de um verdadeiro herói salvando vidas. Pra falar a verdade eu também não gostava muito daquele celular, era da motorola...

Mas logo que eu o comprei vi sinais de arrogância nele, todo metido, dando mostras que era o melhor do mercado e que eu tinha feito um ótimo negócio. Mesmo comprando-o na promoção das Lojas Americanas pela internet. Pensei até ter sido amor a primeira vista. Na propaganda que recebi por e-mail vi aquelas fotos ampliadas... nossa! Se fosse uma mulher eu diria que era uma modelo. Tudo parecia combinar comigo, o tamanho, as funções.

Com tanto visual parecia que ele atenderia as ligações sozinho e falaria por mim. O principal foi o preço...uma bagatela! Mas quando perdemos algo ou alguém é que vamos perceber se gostamos de verdade. Não senti muito com o seu afogamento não. Por que também achei até o manual de instruções complicado demais. Se fosse uma mulher seria daquelas de gênio difícil e com TPM.

Confesso que algumas vezes eu tentei entender o manual, lendo as instruções sobre o uso adequado, as funções passo a passo. Mas aquilo não era um manual de instruções normal, era o dicionário do "Aurélio" Edição Renovada, dessa grossura. Até hoje não entendo porque os manuais são tão complexos, parecem que são feitos numa assembléia geral como foi feita a Constituição do Brasil em 88 e que todo político queria estar presente em Brasília para poder dar o seu palpite. Com aqueles artigos e parágrafos sem fundamento onde você percebe que não levam a lugar nenhum, só complicam mais as coisas. Só faltava mesmo nesse manual ter artigo tal, parágrafo tal.Coisa de louco.

Quanto ao celular quando recebi pensei ter encontrado aquele que atenderia todas as minhas necessidades. Logo ao abrir para uma ligação ou chamada aparecia aquelas luzes no teclado parecendo em néon, azuladas... Coisa de pobre quando quer aparecer e bota aquelas luzinhas azuis nos carros uma de cada lado e ficam desfilando à noite parecendo um vaga-lume gigante. Eu tava de saco cheio dele, pra falar a verdade, a morte dele nem senti. Olha, se fiz umas duas ou três ligações foi muito, e nem recebi ligação nenhuma. E o pior que quando comprei-o eu fiz os testes como todo mundo faz quando adquire um produto desses. Tudo que é novo causa um certo prazer.

Testei-o de uma forma diferente. Liguei para o telefone aqui de casa pra eu mesmo atender. Pra saber como a minha voz saia e pra ver que toque estaria ativado. imaginei como seria aquilo...E fiz os dois procedimentos, ora ligava para o celular e eu mesmo atendia...(até que a musiquinha não comprometia muito)...Ora ligava dele para o convencional.,...Agora a minha voz, tipo assim, eu caprichei né, afinal eu estava falando comigo mesmo...Fiquei parecendo o Willian Bonner com aquela voz empossada dando uma notícia do Iraque sobre mais um atentado. Mal sabia que em poucos dias estaria fazendo você ler isso aqui, compartilhando comigo essa doideira da morte do meu celular por afogamento. Ta aí o triste relato em detalhes da morte do meu celular. Fiquei meio perdido, nem tive tempo de ligar para o estádio para pedir um minuto de silêncio...Não me restou mais nada a fazer a não ser providenciar o velório e a inscrição na lápide :

"Aqui jaz um celular!"
Alberto SL
Enviado por Alberto SL em 08/07/2013
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