GAGO DO PARAGUAI
Ele chega na hora marcada para a entrevista com a Psicóloga. Entra e cumprimenta:
- Bom dia, doutora! - sorri o maior dos sorrisos.
- Bom dia! O que o senhor faz aqui? - ela o olha por cima do óculos.
- Sou pretendente à vaga que existe na empresa...
- Qual é o seu nome, por favor? - ela o interrompe.
- Jo... Jo... Jo... José da Si... Si... Silva Pin... Pin... Pinto! - e olha para o chão, encabulado.
- Qual a sua intenção salarial? - pergunta, formalmente.
- Doutora, eu estou há seis meses desempregado... Tudo que eu quero é trabalhar. Espero que a empresa me remunere na exata proporção da minha capacitação. - sorri e seus olhos brilham.
- E qual é essa sua capacitação? - ela pergunta, curiosa.
- Sou gerente de linha de produção, com especialização feita em Barcelona. No meu último emprego na FIAT...
- Desculpe - ela o interrompe - qual é mesmo o seu nome?
- Jo... Jo... Jo... José da Si... Si... Silva Pin... Pin... Pinto! - ele repete, em alta voz.
- Mas o senhor ia dizendo... - há um ar de espanto na cara da psicóloga.
- Eu ia dizendo que na FIAT eu trabalhei por seis anos e fui responsável por incrementar a tecnologia inovadora no que concerne ao...
- Repita o seu nome, mais uma vez, por gentileza! - há um tom autoritário na sua voz.
- Jo... Jo... Jo... José da Si... Si... Silva Pin... Pin... Pinto! - e encolhe o corpo e se afunda na cadeira.
- Escute aqui, senhor José! - há espanto na voz da psicóloga. - Eu observei que o senhor tem uma oratória perfeita e fluente. Entretanto, toda vez que eu te peço para pronunciar o seu nome, o senhor gagueja. Afinal... o senhor é ou não é gago?
- Sou não, doutora! - ele sorri amarelo. - Acontece que o meu pai era gago e o escrivão do cartório era um filho da puta!
Alexandre Brito - 19/07/2013