O SANFONEIRO BÊBADO DA BOATE

A boate “Brasília” era o hit da época. Todo final de semana a casa ficava lotada. Os “bate coxas” eram animados pelo Chiquinho sanfoneiro, o mais famoso da região. Chiquinho não tinha profissão definida, vivia apenas de seu instrumento musical. Além de tocar na boate, animava aniversários, festas de casamento, comícios políticos.

Certa vez, achando que estava ganhando pouco, procurou o dono da boate e exigiu aumento poucas horas antes do início da “subacada”. O dono não aceitou, achando que era uma espécie de extorsão. O músico irritado foi embora. O dono do estabelecimento ficou em palpos de aranha, não sabendo o que fazer. Mandou um de seus funcionários procurar um substituto para Chiquinho. O rapaz após exaustiva procura conseguiu achar um sanfoneiro obscuro.

A casa estava lotada quando o sanfoneiro substituto apareceu. O dono da boate notou que o sujeito havia bebido uns goles. Mas não tinha jeito, estava em cima da hora. Começou o baile. Homens pagavam ingresso e mulheres entravam de graça. A casa tinha regras: as mulheres não podiam recusar danças á cavalheiros fosse quem fosse. Quando um cavalheiro convidava uma dama para dançar e esta o recusava, o pessoal dizia que a fulana passou “peru” no cicrano. Se o freguês recusado procurasse o dono da boate e reclamasse, a mulher era convidada a sair do recinto.

O sanfoneiro meio bêbado fazia uma miscelânea nos toques: misturava xote com baião, fox com rancheiras...e o pessoal não acertava o passo. Até que um dançarino irritado gritou:

-Esse sanfoneiro é um filho da puta!

Outro retrucou:

-Quem chamou esse filho da puta de sanfoneiro?

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 19/08/2013
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