O Caipira João!

Era uma vez um caipira, bem caipira sô! Humilde e tímido, mas como diria minha avó, bem afeiçoado! Era Bicho-do-mato. Neguinho calado, mas de um coração que não cabia no peito. Peito esse que nunca ficava gelado graças ao coração!

Até que um dia o menino envergonhado viu-se por uma rapariga muito da metida, apaixonado.

Ah, a paixão e suas armadilhas! É perigosa e inimiga número um da razão.

O menino que sempre gostou de flores tirou uma, a mais bonita do jardim, colocou-a num vaso de barro pequeno e nada vistoso. Estufou os pulmões e lá foi ele declarar o amor que já não cabia em si.

A moça muito da arrogante, menina da cidade, estudada e viajada achou uma indignação:

- Moço pobre me dando uma rosa ainda em botão? E num vaso de barro, sujo e manchado?

Não podia, não!

O moço ficou com as maçãs do rosto vermelhas. Como essas que vêm lá das bandas da Argentina. Lugar longe e frio, onde todo mundo fala enrolado.

E a moça achou engraçado. Desembestou a rir, até chorar. Não parava mais.

- Ah, isso não se faz não, moça. O Destino há de me vingar! - O moço foi-se embora com o vaso na mão.

Entrou em sua caminhonete velha, que era na verdade de seu avô. E foi embora para o sítio, lá no meio do mato, com as vacas e os cavalos. Pois lá ninguém ria de suas fuças. Era seu lugar no mundo.

A moça, poxa, não fez por mal. Apesar da sua estica, do seu porte de moça rica, bem vestida e de joias na mão, ela também havia de ter um coração.

E não é que no meio da noite a danada da inconsciência vinha lhe trazer em sonho, o moço caipira, bonitão!

E no dia, cada rosto parecia que era o tal João.

O tempo passou e essa doença não passou. Nem na moça, nem no João. E a doença era nada mais nada menos, que paixão!

A moça muito da atirada, percebeu a sensação. Não perdeu mais tempo e foi no mato atrás de seu amado pedir-lhe desculpas e lhe dar uma explicação.

Mas no meio do caminho, quase chegando no portão, a moça que vinha em seu carro importado teve um ‘piripaque’ e adivinha quem apareceu?

O ‘Jão’!

Estava sujo de terra, com cheiro de esterco de porco, mas não teve tempo de pensar nessas besteiras. Pegou-a no colo com muito cuidado, levou-a para a sala que estava desarrumada e lhe fez respiração.

Boca-a boca, é claro, e a família toda viu. E todo mundo ficou calado, de olhos arregalados. Espantados!

A moça acordou já no meio da respiração. Que nessas alturas já era na verdade só o boca-a-boca. E a paixão virou amor!

E o amor virou um casal, a Maria e o João Junior, o Juninho! Que ficou caipira igual ao pai. E ela ficou dondoca igual à mãe.

Mas não faz mal! Tudo terminou como tinha que ser. A moça rica com o homem pobre, que lhe tratou como rainha do sertão.

Graças ao destino, que vingou o moço e lhe emprestou a sua mão.

Thaís Falleiros
Enviado por Thaís Falleiros em 07/09/2013
Código do texto: T4471296
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