MULHER AZARADA

Ao cair da tarde, numa fazendinha do interior paulista, um casal de idosos contemplava o por do sol e relembrava passagens das suas vidas. Tonho, o marido, indagava da Zéfa, sua mulher:-

“- Zéfa, vosmicê lembra quando nóis, eu rapazinho e vosmicê mocinha, nos casemos?”

“- Ah, Tonho, mas é claro que me lembro, sô!”

“- Pois é, nóis num tinha nada, só muita fôrça nos braço e muita coragem, né? E vosmicê sempre me deu muita fôrça, né, Zefa?”

“- É, Tonho. Adispois nóis arranjemo um boi, uma vaca e um cachorro.”

“- A vaca foi dando cria, os bezerrinho nascendo, crescendo e depois de muito tempo a gente tinha uma boiada, num foi, Zéfa? E vosmicê ajudando, me dando fôrça.”

“- E aí deu doença no gado, uma tal de “fitosa”, um febrão que foi matando o gado e nóis perdemo tudo, tudinho, né, Tonho?”

“- Aí nóis cismamo de plantar milho. Limpamo, aramo a terra, jogamo as semente e depois o milharal cresceu bonito. Já perto da colheita, deu praga nas espiga, o milharal secou e perdemo tudo antes da colheita, Zéfa! E vosmicê, de novo, me dando a maior fôrça.”

“- Mais aí nóis plantemo café, o cafezal cresceu, uma belezura, num foi, Tonho?”

“- Foi mesmo, Zéfa. Mas adispois deu praga de lagarta que comeu as frutinha, antes de amadurar ... e perdemos a plantação toda, de novo. E vosmicê me dando coragem !”

“- É verdade, Tonho. Mais aí nóis resolvemo criar galinha. Começamo com um galo e uma galinha e algum tempo dispois a gente tinha uma galinhada danada e muito ovo que elas botava, né?”

“ - Mais aí veio doença braba que acabou com nosso galinheiro e os bichinhos! Num sobrou nem um pintinho, num foi, Zéfa? E vosmicê me ajudando, né?”

“- É, Tonho, aí a gente já tava envelhecendo, cansada e hoje tamo aqui só nóis dois, mais de 50 ano de casado, só olhando a nossa terrinha.”

“- É mesmo. Agora, Zéfa, cá pra nóis, vosmicê sempre me deu foi um azar dos inferno, sabia?...” – arrematou o Tonho, coçando a barbicha e cuspindo de lado.

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B.Hte., 01/12/13