Coisas de casal
 
 
                Quando um casal se casa tem que ter uma coisa em comum, Roberto Carlos de Souza e Santa Maria de Deus tinham em comum a pobreza e o trabalho duro, os dois trabalhavam em um hospital, ele segurança, parrudo, alto e com cabelos e barba aparados, ela um pouco acima do peso, corpo de mulher rodada, duas núpcias anteriores, de um marido ficou viúva, de outro foi agredida e fugiu de Fortaleza para Vitória.
                Casaram-se em uma igreja evangélica a gosto de Santa, que trocou de igreja, pois nasceu católica, depois de não ver juízo em adorar santos, mudou para uma evangélica que prometia casa e carro novo.
 Roberto Carlos secretamente não acreditava em nada, era ateu, lascado pela vida e pela falta de dinheiro, sempre dizia, baixo para que ninguém escutasse.
                -Essa coisa de Deus é coisa de rico – dizia, mas no fundo tinha medo de suas palavras.
                O casamento ia muito bem, cheio de amores, quando uma coisa aconteceu.
                -Roberto, eu fiquei grávida! – disse Santa, com uma cara imunda de felicidade.
                -Ficou o que mulher?
                -Grávida, vamos ter um filho.
                -Ficou louca, não tenho dinheiro para uma loucura dessas, mulher de cinquenta anos e bordoada ainda pode ter filho? – disse Roberto Carlos que naquele dia  teve que dormir no sofá de dois lugares com buraco no meio, pois Santa contava apenas com 39 anos de idade, seus cabelos brancos, rugas representavam o sofrimento da vida, por isso o marido foi punido  exemplarmente. Descontente e com o orgulho engasgado, Roberto Carlos  teve que amanhecer com as costas arrebentada, teve que ser segurança o dia inteiro de pé com a bunda ardendo.
                Pra que ele inventou de casar? Estava para completar  quarenta e cinco, tinha uma vida sossegada, fumava o seu cigarrinho, tomava a cervejinha. A mulher chegou e proibiu tudo, cigarro faz mal para o pulmão e a cerveja e coisa do capeta.
                A vida de Roberto Carlos caiu pela ribanceira virou uma confusão. O segurança estava com mais problemas que um ser humana que ganha dois salários mínimos é capaz de suportar.
                 Quando o menino nasceu ficou pior, quebrava tudo e vivia doente, arrombava as finanças de Roberto que estava devendo até as cuecas, quando aprendeu a andar a primeira coisa que fez foz foi derrubar o aparelho de TV, único da casa e presente da mãe de Roberto, aquilo deixou o segurança apaixonado, onde assistir o seu fluzão?.
                 David, nome bíblico do filho, comia porcarias do chão e cagava toda hora e todo dia, não dormia de noite nem de dia.
                -Que horas esse menino dorme? – Perguntou Roberto Carlos.
                -Ele tem o horário dele Roberto – dizia Santa..
                Quando o menino completou cinco anos,  chegou na cidade a galinha pintadinha, Roberto Carlos era fã do desenho, via secretamente, tinha uma paixão pelo pássaro azul, chegou em casa todo sorridente e disse.
                -Vamos ao shopping, a galinha pintadinha está ai... –Roberto Carlos , o homem estava alegre e falou tão inocente e alegre que doeu bem na alma a resposta de santa que de uma só vez, como um balde de água fria foi dizendo.
                -Não vou não, essa tal de pintadinha  é coisa do demônio, essas musicas  rodadas ao contrario é oração pro demo, coisa do capeta.
                -Que absurdo  minha Santa, esse é um dos maiores sucesso nacionais – Tem momentos em que o homem tem que apelar para razão e o bom senso,  porque tem  tanta gente ignorante e foi nesse momento Roberto Carlos teve vontade de dizer poucas e boas.
                -Isso mesmo – disse Santa – coisa do capeta, meu filho é de Jesus e não vai a lugares assim.
                O menino que ainda não havia falado uma palavra interira, nem com o tratamento melhor fonoaudiólogo do SUS, nunca disse nem papai ,nem mamãe, nem dada, nem gugu, muitos já tinham batido o martelo que era mudo.Os lábios dele se mexeram de forma  sobrenatural ele disse, em alto e bom som, uma palavra feia e completinha.
                -Capeta.
                Os pais se trocaram olhares, aquilo chamou a atenção e uniu as forças familiares, o casal em uma reação  imediata juntou forças e pensaram logo em um exorcista: um pastor ou um padre, tornaram-se ecumênicos na emergência, dali levaram o menino no pastor, por sorterio no cara ou coroa.
                -Capeta, capeta, capeta.
                O pastor Jacundás fez de tudo, depois que rezou uma oração inteira o menino ainda dizia
                -Capeta..
                -Esse é o chefe dos demônios, um gradão, o menino está possuído por coisa braba, alto na hierarquia,  vou falar com o bispo, tranca numa caixa e acorrenta, o bispo chega na semana que vem, está para jerusalem em perignação.
                Fracassado a tentativa com o pastor Roberto Carlos solicitou o padre e Santa atendeu.
                O menino falava sem parar.
                -Capeta, capeta...
                O o padre olhou triste, era um homem emocional, fez todo ritual do exorcismo, segui o filme, depois todo manual argentino de exorcismo,  o menino falava :”capeta”, deu um tapa na face do menino e depois chorou, meditou por um segundo e disse que o menino estava acabando com a autoestima dele. Mandou que levasse ao medico.
                O doutor examinou, virou de cabeça para baixo, pediu bateria de exames, nada, todos mudos e o menino.
                -Capeta, capeta,capeta.
                -Isso é loucura – disse o médico, receitou um as três qualidades de remédio tarja preta e entregou o encaminhamento para marcar um especialista.
                Abatidos, traumatizados, levaram o menino ao shopping para lanchar, encabulados, pois o menino só falava.
                -Capeeeeeeeeeeeeeeeta.
                Não dava para ficar em lugar publlico e tiveram que abandonar a cidade, passando a morar em um gruta. No bar, Roberto tinha voltado a beber , um cigano  le contou de uma curandeira do circo, eles  foram a um  circo, a curandeira era a mulher barbada, uma velha que praticava curandeirismo .
                Toda de branco, parecia uma cirurgiã, semelhante a Marx, tão feia, tão feia, que parecia um homem, de bobes e cigarro na boca;
                -Então o que o menino tem?
                -Capeta.
                -Isso  - disse Roberto Carlos – o menino não para de falar.
                -Difícil, terrível, mas tem jeito – o homem foi La dentro e deu um picolé com desenho da  galinha pitadinha para o menino e disse – pintadinha.
                O menino respondeu
                -Pintadinha.
                
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 17/01/2014
Reeditado em 24/10/2020
Código do texto: T4653765
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