É como vovó já dizia...

Ai, ai... Ultimamente ando tão nostálgica... Fico aqui, ouço meus discos, viajo tanto que nem sinto a hora passar!... Nossa! Nem percebi que já tinha escurecido... Não sei o que tá acontecendo comigo. Tenho lembrado tanto de antigamente, dos meus tempos de menina, do colégio, das festinhas... Ih! Acho que tô ficando velha mesmo!...

Lá em casa, quando eu era garota, se dizia que uma moça tinha que estar casada até os 25 anos, senão encruava ou ficava falada. A minha avó, que de boba não tinha nada e que do cantinho dela percebia direitinho a mudança dos costumes através dos anos e principalmente a mudança do comportamento das filhas e das netas dela, um dia, durante um almoço de domingo, resolveu alterar esse nosso ditado. Sem decreto, baixou a idade pra 22 anos! Ah, foi um choque! Se, antes, pra minha irmã e eu aquele prazo já soava como uma ameaça, naquele momento aquilo caiu como uma verdadeira sentença. A Márcia estava com 24 anos e eu com 23. Mas ela ao menos estava noiva de um cara há dois anos. Já eu, nem isso. Olha... O mal estar foi geral. Meu pai e meus dois irmãos se olharam, desconfiados. Minha mãe quase se engasgou com a comida. Na hora foi só. Não houve sermão e nem se comentou nada a respeito do que a vovó, na santa sabedoria dela, tinha sutilmente insinuado. Mas logo, logo começaram as novidades. Em duas semanas começaram os preparativos pro casamento da Márcia. Menos de três meses depois daquele fatídico almoço de domingo, além da Márcia, também o Júnior, o meu irmão mais velho, seguiu o mesmo caminho. Casou e mudou... que a namorada dele também já tinha ultrapassado a tal idade perigosa... Sobramos então só eu e o Rodrigo, o caçula... Aí, pronto, começou o inferno. Quiseram me impor normas... Chegar cedo, dizer pra onde ia, com quem ia, essas coisas... Dormir fora, nem pensar!... E pra completar o pacote, meus pais nessa época vinham brigando muito... E eu sabia que as brigas eram por minha causa, por causa do meu comportamento... Um queria que o outro me chamasse a atenção.

Teve uma vez que eu cheguei em casa de madrugada e encontrei a vovó me esperando na sala. Fiquei tão assustada!... Pensei, sei lá, que ela pudesse estar passando mal... Depois eu vi que o olhar dela era de censura, não de dor. Ela me olhou firme e disse assim:

– És uma “bagabunda”!

Não tive reação. Eram quase quatro horas da manhã, eu estava completamente bêbada e o cachorro do Luís Paulo tinha acabado de me botar pra fazer uma chupetinha dentro do carro dele, bem na porta lá de casa... Vovó com certeza tinha visto tudo pela janela. Na mesma hora, eu tentei me defender, mas estava com aquela voz pastosa...

- O que foi, vó? Ele é meu namorado...

Foi pior. Vovó olhou pra mim com nojo...

– Namorado... Tratando os namorados assim, Sandra-Batalhão ganhava uma fortuna na zona!

Foi como se ela tivesse me dado um tapa na cara. Comecei a chorar e corri pro meu quarto. Mas tropecei numa mesinha, caí no chão e acabei acordando a casa toda com o barulho.

É, há males que vêm para o bem. O escândalo daquela noite foi decisivo. Não, não me casei com o idiota do Luís Paulo, que por falar nisso nem meu namorado era de verdade. Saí de casa, isso sim! Fui morar com uma amiga num apartamento em Botafogo... A sugestão da vovó sobre os ganhos da Sandra-Batalhão nem me passou pela cabeça. Juro. Prova disso é que arranjei um emprego de ajudante de enfermagem numa clínica e me tornei uma mulher absolutamente independente, sem papai nem marido pra dar satisfação... E sem vovó também, graças a Deus!

Sabe que a fama de mulher livre e emancipada que se espalhou sobre mim na família não me trouxe tantos dissabores quanto eu cheguei a supor no início? Com o tempo, a liberdade e a independência financeira criam um escudo contra o preconceito... Opiniões reacionárias simplesmente deixam de importar...

Agora... Pena que vovó não estivesse mais viva ano passado, pra ver qual papel a minha condição de mulher moderna me levou a desempenhar no seio da nossa própria família. Coitadinha... Ia ficar espantada se soubesse quem a bisneta dela, a Vivi, filha do meu irmão Júnior, e as outras amiguinhas dela, todas ali pela faixa dos 13-14 aninhos, tinham como modelo e exemplo vivo a ser seguido. É, isso mesmo! Euzinha – a devassa, a vagabunda, a maldita... Esse mundo dá muitas voltas mesmo!...

Vovó na certa ia se escandalizar se estivesse presente naquela ceia de Natal, na nossa velha casa, e escutasse Vivi me pedindo conselhos...

Quer dizer, talvez ela nem se surpreendesse tanto assim e achasse tudo até sintomático... Porque afinal o que Vivi veio me falar foi sobre a virgindade dela, que naquela altura estava seriamente ameaçada...

Ai!... Virgindade... Que lembrança mais remota, meu Deus!... Assim, isso não é nem mais nostalgia... Já virou arqueologia!...

Mas como eu estava dizendo... O problema da Vivi era o seguinte: ela tinha um namoradinho... O menino devia estar aí pelos 20-21 anos... Os amassos entre os dois estavam se tornando cada vez mais quentes, a cada dia mais íntimos... A coitadinha queria se entregar, mas tinha um problema... E ela confiava justamente a mim seu destino de menina-moça...

Não é bonito isso? Não é gratificante pra uma garota que sempre foi tão combatida e censurada, como eu sempre fui nos meus tempos de menina, receber esse reconhecimento?... Ah! É sim, é muito gostoso esse sentimento de admiração vindo de alguém de outra geração...

Então, ciente da minha responsabilidade, eu procurei pelo menino no meio dos parentes que estavam na sala e perguntei a ela...

– Vivi, esse menino gosta mesmo de você?

Ela respondeu...

– Gosta. Não é isso...

– Então se ele gosta mesmo de você e se você tem certeza que quer que seja com ele, vai em frente, garota!... Mas olha... Toma cuidado!... Você sabe... Tem que usar camisinha, essas coisas...

Só que o problema dela era outro...

– Eu sei disso, tia. É outra coisa... É que eu tenho medo...

Eu pensei comigo mesma: Bobinha.

Só que a questão não era assim tão simples. Ela tinha os motivos dela pra ter medo...

– Sabe o que é, tia? É que o Bruno... ele é até muito carinhoso comigo, mas ele... Sabe?... Ele... ele tem um negócio muito grande... eu tenho medo de me machucar... É muito grande, eu sei que vai doer. Você entende?

Ah, fiquei curiosa! Fiquei muito curiosa com aquilo. Fiquei mesmo. Avistei o menino, lá do outro lado da sala, e depois olhei bem pra Vivi. Ela não era pequenininha, era até bem grandinha, as formas já estavam todas começando a despontar...

- Muito grande mesmo, Vivi? – perguntei interessada na questão.

A menina arregalou os olhos e balançou a cabeça.

Huuummm!... Aquele assunto começou a me empolgar... mas confesso que não exatamente por causa do dilema que afligia a coitadinha... O caso é que, naquela altura da minha vida, eu já me encontrava entrando naquela triste fase caracterizada por uma luta árdua pra encontrar um homem que preenchesse com consistência o meu... digamos, vazio existencial... que depois de pelo menos 25 anos de constante e febril existência tinha se tornado bem mais amplo, devo também confessar. E ali, ao que indicava, parecia que eu estava diante de uma boa pista. Por isso eu insisti.

– Mas muito grande como?

O gesto que ela fez com as mãos me levou a um impulso incontrolável...

– Vivi, preciso conhecer esse rapaz!

Mas antes que ela pudesse pensar que aquele meu desejo fosse, sei lá, ávido demais e movido por interesses escusos, eu tratei logo de emendar.

– Eu preciso conhecer as intenções desse menino. Se eu achar que ele gosta mesmo de você, Vivi, qualquer dor vai valer a pena.

Bom... Deu certo. Ela balançou a cabecinha, absorvendo atentamente as minhas palavras. Faltava só o arremate.

– Agora, eu vou lá pro quintal. Você, por favor, mande esse menino ir até lá falar comigo. Quero ter uma conversa com ele. Em particular.

Fiz um carinho no rostinho dela, virei as costa e fui saindo, andando majestosamente...

Bem... Majestosamente talvez não fosse exatamente o adjetivo que vovó empregaria se me visse, mas enfim...

Me lembro bem. A noite estava fresca, as estrelas piscavam no céu e a minha... hum... as pererecas piscavam aqui na Terra.

Em cinco minutos, o menino veio falar comigo...

– A senhora quer falar comigo?

Olhei bem pra ele. Era bonitinho, daquele tipo pernudo e pescoçudo.

– A Vivi me falou de você. Disse o que você quer fazer com ela... Você não sabe que ela é menor de idade, não, rapaz?

Ele se embaraçou todo. Olhou em volta, coçou a cabeça.

Fui ainda mais severa.

– Você não tem vergonha, não? Querer fazer uma coisa dessas com uma menina!...

E em seguida mais severa ainda.

– A Vivi é uma garota pura, nunca teve namorado, mal sabe beijar... Enquanto você já é um homem feito!...

Ah!... No que eu disse isso, ele retrucou.

– Também não é assim... A Vivi não é nenhuma santinha... Não sabe beijar, o quê!

Cachorro!

Franzi a testa, estufei a peitaria e cresci pra cima dele.

Modéstia à parte, nenhum homem fica indiferente quando eu estufo a minha peitaria. Com aquele menino não foi diferente. Na mesma hora os olhinhos dele mergulharam direto dentro do meu decote.

– Que foi? Tá olhando o quê?

O menino ficou totalmente sem jeito. Ah!... Dei um passo pra frente e encostei os bicos dos seios no peito dele. A respiração do menino ficou ainda mais ofegante, Parecia uma locomotiva.

– Tá olhando o quê, garoto? Você não sabe que eu sou tia da Vivi? Você me respeita, viu? Você me respeita!

Aí ele: – Que isso, tia? Que foi que eu fiz?

Aaarrgh!... Detesto que me chamem assim.

– Tia? Que tia?! Você me respeita, hein!

Apontei o dedo no nariz do garoto e espremi os seios contra o peitinho dele.

Foi aí... Foi aí que eu senti pela primeira vez... Ali, me comprimindo as coxas... A confirmação daquilo que Vivi tinha dito sobre as medidas do namoradinho dela... Aliás... Namoradinho, não... Uau!... O garoto era um namoradão e tanto, vou te contar!... E era esperto, viu? Não demorou muito pra ele desconfiar das minhas intenções...

- Ih!... Já vi tudo... A senhora tá querendo... – ele disse. - A senhora tá querendo...

– O quê?! Estou querendo? Estou querendo o que, seu fedelho? Estou querendo o quê? Hein?

Ah!... Imprensei o menino contra a parede e esfreguei nele toda a minha irritação.

O menino não resistiu. Me agarrou pela cintura e me tascou o maior beijo na boca.

– Ei!... Que isso? Você tá maluco?

Isso eu perguntei depois, claro, quando ele me soltou. Mas eu não devo ter sido muito convincente na minha reclamação... Um segundo depois, ele me puxou de novo pra outro beijo... Mas aí... Hã!... Aí dessa vez eu já fui preparada... Guiei logo a minha mãozinha mais atrevida pra conferir os predicados dele...

Sem interromper o beijo, abri o fecho da calça dele e tirei pra fora aquela tão decantada... proeminência.

Uau!...

Desde de pequena eu sabia que seria uma mulher empreendedora... E realmente, na minha mão o negócio do menino cresceu e prosperou maravilhosamente! E eu fiquei tão empolgada com o resultado que parti logo pra um rápido e conclusivo tête-à-tête...

Quer dizer, o que eu fiz mesmo foi ajoelhar e tratar de caprichar na missão que me tinha sido designada por minha sobrinha, isto é, ter na ponta da língua a melhor resposta pros anseios da pobrezinha.

A gente faz cada coisa por sobrinho!...

Só que aquela conversa com o namoradinhozão da Vivi foi começando a ficar demorada demais. Aquilo podia parecer estranho. A qualquer momento ela podia vir procurar pela gente... e não ia pegar nada bem ela me encontrar ali naquela posição de reverência.

Levei então o garoto lá pro fundo do quintal, pra detrás de uma velha jaqueira que eu conhecia muito bem de outros carnavais... Tirei a calcinha rápido, encostei o menino no tronco da árvore e trepei em cima dele.

Eu conhecia aquela jaqueira como a palma da minha mão, então apoeiei os pés numas reentrâncias da raiz e me balancei... quase como fazia antigamente.

Foi ótimo. Preencheu tudo, todo o meu vazio. Me senti toda preenchida, toda tomada, toda invadida, anexada, arrombada... Ai!...

O vento soprava, a lua brilhava e eu lá, subindo e descendo, brincando de gangorra como uma garotinha levada.

De repente, ouvi uma vozinha vindo lá do fundo do túnel.

– Tiiiaaaaa!!!... Tiiiaaaaaaa!!!...

Desci do brinquedo e fugi correndo pelos fundos do terreno.

Foi bem na hora.

Vivi chegou e encontrou o namoradinho dela encostado na jaqueira.

– Oi. Você taí? Falou com a minha tia?

E o garoto:

– Ãhn?... Ah!... Falei, falei... Ela é muito legal, super gente fina... Ela aprovou o nosso namoro... Vivi, eu quero fazer amor contigo... hoje...

Bem... A conversa que eu ouvi terminou aí. Depois eu só escutei gemidos... O cabacinho da Vivi foi comido ali, naquele instante, atrás da velha jaqueira, bem na noite de Natal... Eu ainda esperei um pouquinho, depois atravessei o quintal silenciosamente. Aí voltei pra sala, me servi uma caneca de vinho e fiquei bebendo devagarinho, olhando lá pra fora, sentindo nitidamente a passagem do tempo... Lembrando da época que eu tinha sempre que driblar a vigilância da minha avozinha...