FOBIA

      Gennywaldysonn Maykonn de Jesus era um menino normal como os outros ( com exceção do nome escolhido por sua mãe, claro). Mas de uns tempos para cá, um dia na escola, saiu correndo da aula de História e entrou debaixo da saia de Dona Maria Joana, uma velha senhora afrodescendente, inspetora de alunos. Outra vez, em Conhecimentos Gerais, pulou do segundo andar do velho prédio escolar; sorte que caiu em cima de um grande pé de azaleia. Ficou todo arranhado parecendo ter brigado com onça, mas sobreviveu.
     
      Na aula de Ciências na parte que falava de biologia, escondeu-se dentro de um armário e precisou o “Seo” Mário, outro inspetor, arrancar à força o Genywaldysonn, que parecia ter virado um polvo, multiplicando suas mãos e pernas, entalado e se agarrando dentro do móvel usado para guardar os cadernos e livros dos alunos.

       O Gê como o chamavam, - o jeito era esse, porque Gennywaldysonn e ainda mais Maykonn por cima, ninguém merece -, foi levado a um psicólogo que pediu auxílio de um psiquiatra.

      Ambos notaram que o menino, a pedido deles, ao tentar escrever o nome - o que levou um bom tempo - entrou em estapafúrdio pânico, num processo que lembrava fobia. Um medo difuso, ainda não de todo detectado pelos profissionais.

      Investigaram os casos de pânico anteriores: no caso da entrada debaixo da saia de Dona Maria Joana, Gê tinha acabado de ouvir a palavra antiinconstitucionalissimamente, não se sabe de onde nem quando ou de quem, porque as escolas de hoje, são proibidas de ensinar até: que o sujeito existe como pessoa e cidadão... Não há uma matéria sequer que fale da organização deste país. É tabu! Se o professor falar em civismo, é militarismo rançoso. O professor é partidário de direita...etc... Conhecimentos Gerais, então, são mangas de colete! Quem paga o pato são os pobres Gennywaldysonns da vida.

      Pois bem; os doutores souberam disso, e no caso do armário, foi porque ele ouviu a palavra, otorrinolaringologista... e o nome, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira do ex-jogador de futebol, da seleção, e que foi considerado um dos melhores do mundo. Já pensaram se o Gê ouvisse o nome completo de D.Pedro I !?

       Quanto ao pulo do segundo andar, foi porque a professora pronunciou lentamente na aula de biologia, a horripilante palavra (para ele) : ácido nucleico e desoxirribonucleico.

      Os profissionais da mente, voltaram  ao consultório e fizeram uma mesa redonda com demais colegas da grande clinica onde trabalhavam e chegaram à conclusão que Gennywaldysonn Maykonn de Jesus, adquiriu o trauma fóbico, quando em idade escolar teve visão de seu nome no papel; porque, antes de semi-alfabetizar-se só tinha ciência do som de seu nome, como se fosse ruim mas passável: Genivaldson Maicon era o som que ouvia. 

       Até aí ia levando, mas ao ver a grafia do que sua mãe conseguiu fazer para um bebê indefeso (ele próprio), pirou, ficou traumatizado, olhos parados, boca aberta, sem nenhum som, até que se esgoelou num grito que fez acontecer uma reunião urgente de professores e diretoria; fora as viaturas de polícia defronte a escola.

      Avisaram a mãe do menino, que a origem da FOBIA tinha se iniciado por causa do nome e grafia escolhidos por ela, Ele não sabia escrever nem: a pata nada - pata - pa; e, vovô viu a uva de Ivo era de um gráu de altíssima dificuldade. Para escrever isso ele mordia a lingua, entortava o pescoço, encostava a testa na carteira, suava, e nada... Imaginem ele tentar escrever: GENNYWALDYSON MAYCONN...Pobre Gê...  
      Desta data em diante, segundo a apuração médica, Gennywaldysonn Mayconn de Jesus, passou a sofrer de um trauma fóbico ansioso e mórbido por palavras grandes, longas e complicadas: o trauma fóbico ou FOBIA denominada: HIPOPOTOMONSTROSESQUIPEDALIOFOBIA, todos os acompanhantes ficaram mudos e estáticos. A mãe ficou histérica e GENNYWALDYSONN MAYCONN, após ver escrito e ouvir o som e o tamanho do nome de sua doença, conheceu pela primeira vez a camisa de força e foi levado ao hospital especializado em doenças mentais e nervosas.


TEMPOS DEPOIS: A justiça, através do Juiz, que supriu a vontade do menor, faxinou a grafia do nome do menino, espurgando as surperficialidades e graus de dificuldade em assimilá-lo, mudando-o para Genivaldo Michel de Jesus, baseado em: *Se um nome , expor a pessoa ao ridículo, ou dificultar sua vida na coletividade o Juíz pode intervir por meio de recebimento de petição modificando-o, sem contudo suprimir o apelido de família, no caso, de Jesus. Sendo ele filho de pai incógnito.


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Glossário de fobias Wikipédia: Hipopotomonstrosesquipedaliofobiamedo de palavras grandes;

*DAS POSSIBILIIDADES DE ALTERAÇÃO DO NOME CIVIL
Ao nascer, o indivíduo deve ser registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, recebendo um nome que constará em seu assento de nascimento. Contudo, quem escolhe o nome do sujeito é o pai e a mãe na maioria das vezes, podendo esta escolha gerar implicações, como abalos psicológicos futuro e reflexos na autoestima da pessoa.
Algumas hipóteses de alteração do nome civil estão previstas em lei, inclusive o item 38 do Capítulo XVII das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/24104/possibilidades-de-alteracao-do-nome-civil/2#ixzz3HDNcrp00


 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 26/10/2014
Código do texto: T5012255
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