Aquela tarde caminhando pelo Rio-Sul, perdido em fantasias, no bom e no mau sentido, principalmente neste, avistei-a de relance. Senti o sangue ferver nas veias. Ela tinha tudo, em se tratando de formas para vencer uma competição de beleza. Não houve outro jeito senão segui-la, na espreita de um pretexto para iniciar uma conversa cheia de interesse, porém livre de suspeitas para depois desfrutar dos desdobramentos óbvios.
Após um bom tempo naquele "entra-e-sai" de lojas, ora de longe, ora de perto, decidi me emparelhar com ela, fiquei a pouquíssimos metros - pertinho mesmo, quando, para minha surpresa, ela, sorrindo, se dirigiu a mim :
- Oi! - disse um oi entusiasmada - como é que você vai? Há quanto tempo.
- Tudo bem, tudo bem - falei sem graça como quem acaba de descobrir que está com a calça aberta.
- Por que você não tem ido "lá"?
- Ah! estou cheio de compromissos. Muita viagem a Brasília (elas gostam de homens ocupados, com muitas reuniões em Brasília). - A verdade é que eu não tinha a menor idéia onde era "lá" e muito menos a conhecia. Mas, desde que ela freqüentava "lá", eu estava disposto a ir "lá" também.
- Você tem perdido, "lá" tem estado ótimo.
Procurando conseguir pistas sobre "lá", concebi, rápido, algumas perguntas paralelas, atento para não deixar brechas para que ela concluísse que não me conhecia de "lá", nem de lugar algum, bem como para evitar fazer observações inadequadas para quem, segundo ela, era íntimo de "lá".
- E como está a turma, o pessoal todo tem ido "lá"? - perguntei interessado.
- Não, você sabe... depois do caso da Milu, muita gente deixou de ir "lá".
- Claro, claro. Estava me referindo a, obviamente, antes do caso da Marilu.
- Milu! Você sempre trocando os nomes... Sabe o Blim-blão?
Não, eu não sabia nada sobre esse tal Blim-blão, mas fiquei firme.
- O que é que tem o Blim-blão? Não me diga que morreu?
- Ele agora está com a baixinha, com a Sandra baixinha.
- E o Blim-blim como está? (Se havia Blim-blão, tinha que ter um Blim-blim, é claro).
- O Tonico Campainha? Você chama ele de Blim-blim?
- Certo, ele não ficou aborrecido por ter perdido a Baixinha para o Blim-blão? - arrisquei sem medo, na cara de pau.
- Eles tiveram um caso? A Doda vai adorar saber dessa! Você não tem ido "lá", mas está bem informado, hein!
Verificando que esta abordagem estava pouco efetiva para saber o que é e onde fica "lá", além de ser informado de fatos sobre pessoas que não passavam de nomes e de apelidos, o que não me despertava o menor interesse, decidi empregar outra tática.
- Sabe que sempre tive uma queda por você, seus cabelos... seu charme. "Lá" sempre fico te olhando.
- Que é isso, Welto? (Ela pensava que me chamava Welto.)
- Quem sabe nós dois...?
- Ih, lá vem meu namorado. Se ele me pegar aqui com você, vai criar o maior caso. Você sabe que ele não suporta o pessoal que vai "lá". Sabe a Mitoca, amiga da Milu?
- ...?
- Hoje à noite, ao invés de ir lá, te espero na casa dela para irmos a um motel ali pertinho. Também estou a fim de você. Tchau.
Nem bem ela acabara de partir em direção ao namorado, eu estava com cara de bobo, quando passou uma morena deslumbrante, daquelas tipo  capa de revista para homens, e me falou, sem interromper a caminhada:
- Vê se pinta hoje "lá". Depois a gente passa  a noite juntos, tá?
Fui para casa, mais do que nunca, decidido a freqüentar "lá", urgente, de qualquer forma. Tenho que descobrir onde é "lá" e passar a ir "lá" sempre, toda noite, se possível, pois certamente festas incríveis devem acontecer "lá", onde são armadas transas sensacionais, em que participam as mulheres mais lindas de Ipanema, até a tal Doda... fuxiqueira sim, mas que, pelo nível dessas duas que conheci, deve ser um mulherão!
 
Karpot
Enviado por Karpot em 21/11/2014
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