A alta do ovo.

O povo, principalmente, as classes menos favorecidas já estavam acostumados com o congelamento da inflação, e determinadas conversas do dia a dia, não causavam uma confusão danada, como vêm causando atualmente, pois até uns dias atrás quem é que se ouvia falar em aumento de preço de qualquer produto que fosse. Agora, já relembram velhos tempos em que se dormia com um preço e acordavam com outro. E hoje, logo de manhãzinha, seu Zé chega enfezado, resmungando e cheio da razão da quitanda da esquina. Gastou todos os trocados ganhos nas diárias da semana. Revoltado já vai logo esbravejando com a mulher ao entrar em casa:

__ Mulher o ovo subiu!

Ela toda carinhosa ao perceber que ele chegou com um punhado de farinha, dois quilos de arroz, um cocão de feijão e um bafo de cachaça infeliz, responde:

__ Se esse diabo subiu é porque está goro, não serve pra nada, só serve mesmo pra jogar fora, deve até está pode.

__ Não é isso não, mulher! Eu estou me referindo ao aumento do ovo.

__ Ainda bem que aumentou. Porque o que você trouxe semana passada parecia uns ovos de nambu de tão pequeno.

__ Não, meu bem, eu estou falando do aumento do preço do ovo que subiu.

__ E que diabo é isso! Ontem mesmo você num comprou três por um real.

__ Pois é hoje só foram dois.

__ Valei-me minha nossa senhora! Que carestia do cão é essa, menino! Imagina quando chegar a semana Santa. Vai ser um real por um ovo. Eu vou é comprar umas galinhas.

__ Faça isso não minha veia, porque vai ser pior.

__ Por que home?

__ Mulher você sabe quanto que tá um litro de milho!

__ Sei não, home! Quanto é que tá?

__ Com essa seca no começo do ano já se sabe que num vai se criar nada. O que pode dá ainda nas roças é um pouco de feijão, agora milho eu acho difícil. Já tão dizendo por aí que a gasolina vai subir de novo. Por causa dos roubos que teve na PETROBRAS. Se a gasolina subir, pode esperar a lapada. As coisas vão lá pra cima.

__ E o que nós vamos fazer home! Nós só tem o Bolsa Família. Com essa carestia toda agora nós vamos ter que fazer alguma coisa. Vai pra roça, Zé. Pelo menos feijão nós vai ter pra comer. Toma teu café. Amola a enxada e vá pra roça plantar. Valei-me meu São José! Tomara que não dê lagarta.

Pedro Barros.

Barros Nasimento
Enviado por Barros Nasimento em 25/02/2015
Reeditado em 25/02/2015
Código do texto: T5149526
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