Causos ...

Dois hilariantes causos narrados pelo insuperável contador Rolando Boldrin em seu programa Sr Brasil, transmitido aos domingos pela TV CULTURA-SP, e que ousei adaptar por aqui!

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O coronel Getuliano e a comadre Zilú, casados há 15 anos (quando ele já contava com mais de 40 anos e ela, uma ainda ninfeta de 15 anos...) e com 24 filhos, gerados em 16 gestações (foram concebido quadrigêmeos, duas trincas de trigêmeo e um casal de gêmeos...), aguardavam ansiosamente a chegada de mais um herdeiro (a)...

Chegado o grande dia, parteira que havia realizado todos os anteriores partos, ao encontrar grande dificuldade em sua realização, dirigiu-se preocupada ao Coronel dizendo que seria melhor desta feita, solicitar auxilio ao Dr. Leopoldo para a conclusão do trabalho. Ela, com toda a sua larga experiência, não estava conseguindo trazer ao mundo este 25º ser...

O Coronel rapidamente convocou o médico que em tempo recorde lá estava para as devidas providências.

Solicitou que todos aguardassem na sala, mantendo em sua companhia apenas a parteira para que o auxiliasse em alguns trabalhos de praxe. Decorrido um bom tempo, ouviu-se na sala um possante choro de criança denotando que havia ocorrido o nascimento!

O Dr. Leopoldo solicitou à parteira que fosse chamar o Coronel na sala solicitando que adentrasse ao local do parto.

Assim que adentrou o local, o Coronel viu nos braços da esposa um robusto bebê que extrapolava em tamanho e robustez qualquer dos anteriores bebês concebidos.

Após o médico dizer que tanto o bebê quanto a parturiente muito bem necessitando somente dos cuidados normais para o caso, o Dr. Leopoldo alteou a voz e disse:

--- Coronel... Dona Zilú! Pelo que sei este foi 12º parto da senhora

Zilú e foi um parto de altíssimo risco. Além do mais, também

pelo que sei é o 25º filho do casal. Não é certo?

O Coronel, enrolando as pontas do vasto bigode, respondeu ressabiado:

--- Pois sim, doutor! Este garotão é o nosso 25º fio!

O Doutor Leopoldo resfolegou e complementou:

--- Pois bem, Coronel e dona Zilú! Pelas condições que realizei o

parto e pelas condições de geração da parturiente, aconselho

que devam parar de produzir. Ou seja, tem de adotar medidas

para que a Dona Zilú não mais engravide. É certo que se houver

uma nova gestação, ela morrerá! Convenhamos que 25 filhos já

seja uma excelente prole e pode perfeitamente haver um

encerramento neste garotão que hoje nasceu, não é mesmo?

Embora um tanto quanto contrariado, o Coronel acedeu dizendo:

--- Tá certo, doutor! Se for para manter minha Zilú viva, nós num

faz mais fio, sô!

Tudo acertado, logo que o Doutor se foi, o Coronel solicitou aos serviçais que arrumassem o quarto que servia para os hospedar as visitas e mudou-se de ‘mala e cuia’ para lá, deixando Dona Zilú como única ocupante do ex quarto do casal.

Todos os dias, após a lida diária, o Coronel tomava seu banho, jantava, proseava um tanto e dirigia-se para seu aposento para recolher-se.

Assim passou-se um mês, dois, três...

Certa noite Dona Zilú, que de algum tempo não mais conseguia conciliar um sono reparador, levantou-se, colocou sua camisolinha que havia utilizado nos idos tempos de sua lua de mel, ajeitou os cabelos e de posse de uma lamparina, saiu pelo corredor dirigindo-se para a porta do aposento onde dormia o seu marido, o Coronel.

Lá chegando, bateu na porta, insistindo por algumas vezes na batida.

Do lado de dentro, ressonando tranquilamente, o Coronel acordou com as batidas que ouviu.

Sentou-se na cama e indagou:

--- Quem é que esta batendo?

Um tanto quanto sofregamente, Dona Zilú respondeu:

--- Sou eu, Coroné!

O Coronel, intrigado, indagou:

--- Qui foi, muié? Tá acuntecendu arguma cosa?

Com voz bastante chorosa, Dona Zilú respondeu:

--- Coroné... Eu quero morrê...

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Dona Florinda possuía um gatinho chamado FELPUDO, tido e havido por todos aqueles que o viam, como um dos mais belos espécimes de felinos que conheciam. Pelo sedoso, macio, olhos azuis, dengoso e, acima de tudo, muito inteligente.

Dona Florinda pedia para FELPUDO buscar seus chinelos e ele, rapidamente corria e retornava trazendo entre os dentes a solicitação feita; Dona Florinda ordenava que ele deveria ir dormir e ele rapidamente dirigia-se para sua casinha e por lá ficava à revelia de conciliar ou não o sono; Dona Florinda dizia que ele deveria permanecer no sofá com ela enquanto assistia ao MAIS VOCÊ e o bichano lá ficava fazendo-lhe companhia. Dona Florinda perguntava-se se estava, por exemplo, com sede, e ele miava quando acedia ou permanecia quieto se não acedia.

Dona Florinda exultava com as performances e várias outras executadas pelo bichano e vivia proclamando ‘aos quatro ventos’ que um dia ele iria falar. Por estas e outras, por várias vezes, colocava-o no sofá sentadinho ao seu lado e ficava solicitando:

--- Fala FELPUDO, fala!

O bichano olhava-as e respondia:

--- Miau!

Dona Florinda não se dava por satisfeita e fazia a solicitação por diversas vezes ao dia, recebendo como resposta SEMPRE o miau desfechado pelo bichano.

Passaram-se alguns anos e certa ocasião, sem que Dona Florinda estivesse solicitando, FELPUDO aproximou-se dela e disse:

--- Abandone este prédio que ele vai cair!

Alucinada, Dona Florinda saiu pelos corredores do prédio alardeando:

--- Eu não disse, eu não disse! Meu FELPUDO falou, meu FELPUDO

falou!

Desceu pelos corredores do prédio, tocando de apartamento em apartamento, como um verdadeiro arauto divulgando a boa nova!

Estava nesta correria quando se ouviu o primeiro estrondo denotando que algo não corria bem com a estrutura do edifício.

FELPUDO, no interior do apartamento da Dona Florinda, ao ouvir o estrondo, escafedeu-se rapidamente aproveitando o fato de dela nem haver fechado a porta ao sair, de tão entusiasmada que havia ficado com sua fala e em breve espaço de tempo já estava lá embaixo, na rua.

Em poucos instantes, tudo se consumou. O prédio ruiu inteiramente, destruindo tudo e a todos!

Observando os escombros, FELPUDO pensou:

.... Veja só como são as mulheres! Passou vários anos pedindo para

que eu falasse! Quando eu falei, não acreditou em mim e deu no

que deu!