RETRATO DE PORTUGUÊS

I

Piadas de português

Já ouvi até de bacharel

Muitas outras do caboclo

Em cassino ou no bordel

Esta que acabei de ouvir

Eu vou aqui reproduzir

Versejando em cordel.

II

Um neto de Manoel

Que é filho de Joaquim

De Portugal veio ao Brasil

Tentar sua sorte enfim

Para variar é o Antônio

E sonha com patrimônio

Num País Tupiniquim.

III

Sentiu saudade sem fim

Dos seus pais em Portugal

E disse de si pra consigo:

- Tudo bem e nada mal

Eu vou tirar meu retrato

E lhes mando por um jato

Isto já é um bom sinal.

IV

Feriadão de Carnaval

Que é a alegria do povo

Veste-se Antônio depressa

De gravata e terno novo

Põe o seu boné vermelho

E diante dum espelho

Ele se acha um renovo.

V

“Esta foto eu aprovo”

Diz de consigo pra si

E acabou de se lembrar:

- Hoje é feriado aqui

Nem que procure na lista

Não acharei retratista

Que fotografe o que vi.

VI

Este espelho em que revi

A mim mesmo retratado

Vou colocar numa caixa

E depois desse feriado

Enviarei aos meus pais

Cuja saudade é demais

Lá da terrinha do Fado.

VII

Assim fez como pensado

O Antônio português

Na Quarta Feira de Cinzas

Ele não perdeu a vez

De estar numa longa fila

Lá no Correio da vila

Sem senão e nem talvez.

VIII

Oh! Quanta insensatez

Melhor quiçá inocência

Do velho pai de Antônio

No abrir a correspondência

E se deparar com o espelho

Olhou e ficou vermelho

Não vendo a coincidência.

IX

Porque não teve ciência

De que a si mesmo se via

Chamou logo sua esposa

Enquanto a ela dizia:

- Eis aqui nosso Toninho

Que parece tão velhinho

Decerto foi da boemia.

X

Gritou a velha de alegria:

- Deixa-me ver nosso filho

Oh! Como está tão acabado

Parece até um andarilho

Coitado também pudera

Ele co’essa bruxa fera

Só podia estar maltrapilho.