Sobre peões e gatos

- Dotô, amanhã eu num venho.

- Por que ?

- Vô distraí um dente !

- Vai o que ?

- DISTRAIR (agora com ênfase no infinitivo) um dente.

"A minha mente fez uma alegoria imediata de um dentista com nariz de palhaço fazendo malabarismo com dentaduras para entreter o dente em questão"

- Ok, tudo bem.

- Amanhã é que vão virá a laje do almirante ?

- Almirante ?

- É, aquela parte mais alta da casa donde dá pra vê tudo.

- O mirante ?

- Foi o que eu disse

- É, vai ser amanhã

- Vai tê poca gente intão

- Não, o Madureira disse que vem

- Ma rapá, vem nada ! Aquilo é um cabra véi serregonha qui bebi virado nu cão. Ainta ôto dia, tava chapado e armô o andaime perto dos fio di alta intensão.

(Até aquele momento não tinha imaginado como os cabos elétricos poderiam ser maquiavélicos...)

Só num subi lá pa dá esporro porque altura mi dá uma alegria nas perna da muléstia ! Elas treme pa bixiga !

- Bom, de qualquer modo não posso adiar, a casa tem que ficar pronta logo para eu entregar as chaves para o Doutor Edson.

- Ele já comprô a casa ?

- Já

- Ma, ele já pagô ?

- Ainda não, mas ele me apertou a mão e fechou negócio

- Dotô... Vê lá...

- Vê lá o que ? (Essa é boa, tu entende mesmo é da intensão dos fios) Ele usa o chaveiro de maçom e é um senhor muito austero. Disse que deixou o bigode crescer em homenagem ao pai, que ensinou que homem não precisa de papel para fechar trato, basta um fio do bigode.

-O Dotô vai mi disculpá, mas se bigode vale alguma coisa, é milhó o sinhô intregá a chave da casa pru meu gato, qui tem bigode desdi qui nasceu !

"Achei melhor adiar a laje do almirante."

Nictobata
Enviado por Nictobata em 23/01/2017
Código do texto: T5890821
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