O padeiro ja veio?

Quando eu era criança, residia em São Paulo. Tínhamos uns vizinhos chilenos. Era uma família grande. Avós, filhos e netos que eram três, Reinaldo (Reina), Rosa (Rosita) e Hermínia (MÍmi).

Reina era o mais velho já adolescente, Mími , a mais nova, mal falava ainda, Rosita já falava bem. Falava um português misturado com espanhol e um forte sotaque. Falante, porém pavio curto, marruda, se lhe desagradassem, não se calava, disparava sua artilharia de palavrões.

Minha mãe sempre agradava às meninas dando-lhes pão com manteiga sempre que o padeiro entregava o pão pelas manhãs daqueles passados dias.

Naquela época, comprava-se o pão e o leite na porta de casa. O padeiro passava com sua carroça puxada a cavalo, ou com um triciclo com um enorme baú. Passava por duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, por todos os dias da semana, fim de semana e feriados.

Um dia, Rosiita estranhando a demora do pão que não vinha, pergunta a minha mãe:

- “Djá abenido el panadêro?”

Minha mãe responde:

- Ainda não Rosita. Você gosta de amendoins?

E deu-lhe uma porção para acalmar a ansiedade de Rosita enquanto não chegava o pão.

Passou algum tempo, algumas semanas e corria tudo bem, sem atrasos do padeiro, até que um outro dia, aconteceu.

- Rosita pergunta:

- “Dja abenido el panadêro?”

- Ainda não Rosita.

- “Tiene mindurinha?”

- Hoje não Rosita.

- "Cafetona!"

- “Fia da puta!"

- "Ba a toma ni si cú!"

Pablo Vera Cruz
Enviado por Pablo Vera Cruz em 09/06/2017
Reeditado em 12/07/2017
Código do texto: T6023223
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