A Fazenda
Como é delicioso o frescor da manhã... e desfrutar todas as cores e os odores da natureza.
Tudo está sempre em constante renovação. O mesmo sol que faz queimar à tarde, desperta a natureza pela manhã. Os pássaros bigodeiam-se entre si, brincando de zig zag entre as árvores... os galos, despertos, anunciam um novo dia, as árvores, parecem espreguiçar-se e seus arbustos buscam os raios de sol, assim, tomando-os, para erguerem-se mais fortes e viçosos.
A fazenda Graça do Rio Verde tem 80 alqueires. Serpenteada entre algumas nascentes d’água e da serra da Graciosa, tem como tradição o plantio do café, apesar do anseio na mudança da safra, pela geração atual da família. Possui ainda, umas poucas cabeças de gado leiteiro para consumo próprio e para a confecção de queijos, tudo isso por vontade do Dr Ivair, atual gestor e descendente da família Gomes de Albuquerque.
Dr Ivair é um advogado de pequenas causas. Mora em São Paulo, à contragosto, num apartamento confortável na Vila Nova Conceição. Solteiro por definição, ainda compartilha do imóvel com Dona Alzira, matriarca da família e defensora na manutenção da fazenda, no patrimônio dos filhos. Dos três filhos, dona Alzira não espera mais que nenhum deles assuma a gestão da Fazenda. Roberto e Carlos, seus outros dois filhos, não carregam as aptidões da agricultura e enveredaram-se no ramo da construção civil.
Nazário é hoje o caseiro da fazenda. Seus pais trabalharam muitos anos nela, desde a colheita até o envio dos grãos à cooperativa. Moraram também na fazenda, onde havia uma pequena vila com 07 casas, feitas exclusivamente para receber os trabalhadores. Lá tiveram 02 filhos. Hoje não estão mais vivos e Nazário foi ficando, ora por favor dos donos da fazenda, ora por agradecimento aos serviços prestados pelos seus pais. Não era ele um destaque na lida com os animais e tão pouco no plantio.
Da família, os que mais frequentam a fazenda são o Dr Ivair, pois, por hobby, tem alguns cavalos que cuida com muito esmero e a Dona Alzira, que faz da grande varanda do casarão o seu ponto de descanso e onde passa as tardes a relembrar os momentos das grandes confraternizações da família e do falecido marido, Sr Viriato.
Nossa história não termina aqui. Aliás, é aqui que tem inicio.
São 3:43 hs da manhã, quando o Dr Ivair é acordado pelo toque do celular.
- Alô!
- Douto Ivair?
-Sim. Quem fala?
- É Nazário, da fazenda do sinhôr.
- O que foi Nazário? Qual o motivo da ligação a essa hora?
- Tô ligando prá avisa, que o seu cachorro... o Alecrim, morreu!
- O Alecrim morreu? Que pena Nazário, ele estava com a gente há 10 anos.... como foi isso?
- Deve ter sido a carne estragada que ele comeu...
- Carne estragada Nazário? Que carne estragada?
- A carne estragada do cavalo morto.
- Que cavalo morto?
- Aquele seu cavalo, que tem a crina bem grande.
- Meu Deus do céu Nazário.... você está falando do meu cavalo marchador?...aquele da raça Anglo – Árabe?
- Acho que é esse mesmo doutor. Aquele que corre com a gente em cima sem sacolejar, não é?
- Esse mesmo! Meu Deus... o que aconteceu?
- Acho que ele morreu porque ele fez muito esforço....
- Que esforço Nazário? Esse cavalo é marchador... não é para fazer esforço!
- É que ele tava puxando a corroça d’água, quando passou mal e morreu.
- Que carroça d’água? Ou melhor, para que ele estava puxando a carroça?
- Ele tava puxando a carroça d’água pra apaga o incêndio...
- Que incêndio Nazário?
- A vela de 07 dia caiu no assoalho da sala e foi rolando até a cortina....ai pegou fogo em tudo, até na garagem onde tá aquele seu Fordinho 39. Acabou com ele todinho...
- E porque estava usando vela lá Nazário? Tem luz elétrica…tem gerador de eletricidade....
- Ué, usei prô velório....
- Que velório Nazário??
- Da sua mãe!
- Como? Minha mãe morreu?
- Pois é douto Ivair, sua mãe veio de surpresa onte onte à noite... pensei que fosse ladrão e dei dois tiro nela.