Macacoas

MACACOAS

Tinha razão minha mãe, quando dizia: “...depois dos cinquenta, a gente arruma tudo quanto é macacoa”... Sábias palavras!

Macacoa, segundo Mestre Aurélio, significa doença sem gravidade. Com o dinamismo natural da língua, entretanto, hoje abrange uma gama mais ampla, principalmente no meio mais simples. Ali pelas bandas do Engenho, por exemplo, onde meu umbigo foi sepultado (mal a gente nasce, já começa a morrer!) é acontecimento de pouca importância, pendendo mais para o lado do esdrúxulo.

Os problemas da coluna (macacoa comum à maioria das pessoas), normalmente, são os primeiros que surgem, se é que já não surgiram antes dos fatídicos cinquenta.

Recentemente, entretanto, descobri que essas anomalias vão além de doenças e situações inerentes: descobri que o ser humano encolhe à medida que envelhece! “Simples assim!”, como está na moda dizer...

Num papo com um ex-colega de ginásio (sim, no meu tempo era ginásio), hoje médico, ele me explicou que a gente encolhe 1 centímetro a cada década vivida, a partir da quarta.

Ocupante da quadra da sétima década de existência, decidi partir para a prova. Mas como descobrir minha altura aos vinte ou trinta? Eureka: certificado de reservista! Quer documento mais válido, se, no exame médico que fazíamos para servir no Tiro de Guerra, a gente tirava até a roupa para medir a altura?...

Não deu outra: mingüei (desculpem, mas eu tenho que usar um trema; não concebo a idéia de minguar sem ele!) Mingüei QUATRO centímetros!!! O colega médico tem razão...

Outras macacoas interessantes e, às vezes, até hilárias, são as relativas à “caduquice.” Aliás, hoje o ser humano não fica “caduco”. Fica esclerosado. A memória falha muito, se torna “veiaca”, incoerente: guarda lembranças de uma infância longínqua e, normalmente, não registra o que a gente comeu no almoço...

A propósito, lembrei-me de uma história interessante de dois amigos que, após longo tempo sem se verem, se encontraram na porta de um restaurante. Bastante avançados nas décadas, o assunto, como sói acontecer entre pessoas mais eradas, acabou desembocando na troca das macacoas. E dá-lhe males, comuns ou divergentes; e receitas caseiras, e conselhos médicos, e recomendações de profissionais, e medicamentos milagrosos...

Hipertensão, diabetes, cardiopatia, hemorroidas, stents, hiperplasia e enxaqueca; eletrocardiogramas, cintilografias, tomografias e cataratas...

Fraldas de camisas foram levantadas, deixando à mostra, às vezes até com certo orgulho, cicatrizes probatórias de cirurgias perigosas e inesquecíveis.

Finalmente as novidades foram rareando e o papo tomou um ritmo mais normal, menos senhorial.

E aconteceu a despedida:

- Foi um prazer imenso reencontrá-lo com saúde!...

- O prazer foi todo meu!...principalmente por constatar tanto vigor e energia de sua parte. Só mais uma informação: quando nos encontramos... eu estava chegando ou saindo do restaurante?

- Saindo... mas por quê?

- Nada não... só queria saber se já almocei...

Alírio Silva
Enviado por Alírio Silva em 26/01/2020
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