SUA MAGESTADE O PENICO

Se numa lista de objetos ou artefactos mais interessantes ou de maior utilidade em tempos prtéritos, num desses simpósios de doutas cabeças, e se eu pertencesse a esse priviligiado grupo e, se alguém me pedisse para indicar por ordem de importância, para o ser humano, o nome de um artefacto, eu colocaria sem pestanejar em primeiro lugar, o penico.

Antevejo nas caras de tal grupo a estupefação, o espanto, e os mais exdrúxulos comentários: - Ora, esse aí só pode estar a gozar com nossa cara... Logo o penico, essa coisa abjeta, que felizmente não faz mais parte de nosso vocabulário moderno, quando muito ainda existirá por aí algum vaso desta categoria, mas chamado urinol, mas penico? –Pura descriminação meus amigos, ao bom e leal companheiro, eu lhes garanto. Parece até que as pessoas sentem como se fora um despudor pronunciar seu nome.

Vamos analisar friamente a questão que por falta de coisa melhor eu chamaria de questão penical, e não penicada, fique isso bem claro, não quero criar confusões com a nossa nobre e doce língua tantas vezes mal tratada.

O penico também chamado de bacio e bispote, em Portugal, este nome, sim é de lascar. Bispote. Ainda bem que tal nome é de origem desconhecida. Este utilitário quer queiram ou não é nome emblemático, majestático, é só observar a sua forma, de coroa real, apesar de sua origem plebeia.

Já imaginaram nos tempos das calendas gregas, em noites de frio de regelar ossos, as pessoas premidas pelas necessidades fisiológicas urgentes terem de andar lá pelos cantos dos quintais, à procura de um lugar para se aliviar? Vejam bem até que ponto chega o cinismo do ser humano, terem vergonha de pronunciar o nome penico. Agora, que há confortáveis e coloridos vasos, a que chamam de sanitários, ou popularmente de sanitas; ficam snobando e tem vergonha daquele que tanto lhe serviu. Pura ingratidão, meus amigos, essa é que é a grande verdade.

É por estas e outras, que às vezes me dá vontade de me armar de “cavaleiro da triste figura”e brandir minha espada aos quatro ventos já que, D. Quixote derrubou todos os moinhos de vento daquele tempo.

E mais, digo, quantas foram as vezes que, honrados e zelosos pais de doces e virgens donzelas, importunados pelos vagabundos seresteiros fizeram acontecer grandes penicadas, para afastar tão nefastos casa- novas, que se ficavam por ali debaixo das suas janelas, hã, hã?...

(do meu livro, Coisas e Loisas de cá e de lá)

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 02/02/2020
Reeditado em 05/02/2020
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