O CAIPIRA TESTEMUNHA DE CASAMENTO

Uma veiz eu fui incunvidado para tistimunha de casamento dum parente meu. Eu falo e muita gente acha ruim: Se casamento prestasse, num pricisava de tanta tistimunha...

Dei uma guaribada no meu terno de casamento, que tava um poco fora de moda e fedeno naftalina. A noiva do meu parente era de famía rica e ia sê um festão. No dia do casamento a minha patroa foi no salão e deu uma arrumada nela, a véia até que ficou bem ajeitada... Já eu, num teve cunserto não: Fiz a barba, passei água de chero, carcei um par de sapato bico fino, arrumei uma gravata ajeitada, custei a cunsigui dá um nó nela. Fumo pra igreja e a cerimonha demorô muito, despois do casoro, fumo dá os pesame aos noivos.

Foi uma tiração de retrato, um mundo véio de gente, uma demora danada pra cumeçá a festa, que era num salão atrais da igreja. Eu já tava numa fome danada, já tava iscureceno e eu tava só com o armoço. Até que infim cabô a tiração de retrato e fumo todo mundo pra porta do salão. Outra demora. Num abriam a porta, o tempo passano, a fome armentano e ninguém fazia nada. Despois de muita demora, firnamente abriram a porta do salão. Foi a mesma coisa que abri a portera dum curral. Todo mundo quereno entrá duma veiz No impurra impura, quando cuidei que não, já tava lá dento do salão empurrado pela turma, e cadê a véia? Tinha apartado de mim, na confusão. Fiquei num canto isperando ela, num tinha nem jeito de saí. Até que ela apareceu, fumo caçá um lugá mode a gente sentá. Aí apareceu o pai da noiva, todo risonho que cumprimentô nois:

-Tudo bem?

Eu arrispundi na bucha:

-Tô cum fome, cum sede, o sapato machucano, o colarinho me inforcano e pricisano ir no banheiro, fora isso, tá tudo bão...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 17/02/2020
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