O CAIPIRA ENFERMEIRO
Quinzinho do Gamelão contando seus causos:
-Gente, quando eu morava na fazenda do Nicão, eu fazia de quais tudo lá: Era ferrero, carapina, amansadô de cavalo brabo, até infermero eu já fui...Esprimi muito furunco, encanei muito braço distroncado, ranquei até dente cum alicate...
Morava na fazenda um preto véio, o João Corote, de seus noventa ano, ele falava que era fio de escravo furriado, um dia ele ispetô o braço num ispinho de coqueiro de macaúba, e fui tentá tirá-ele, era um ispinho muito grande e tava muito fundo, nun cunsigui não. Pricurei o patrão e falei cum ele que o negoço ia inframá e azangá, que tinha que levá ele na cidade mode um dotor tirá o ispinho.
O Nicão mandô eu levá ele na Santa Casa mode um dotor atendê o João. O joão era da cabeça meio lerda, num sabia lê nem iscrevê. Levei ele pro ponto da “Jardinera” e entremo nela. Eu sentei numa cadera da frente e o João foi sentado lá no fundo. Daí a pôco ele me pediu:
-Quinzinho me impresta uma paia, mode eu fazê um pito.
-Tenho não João, eu tô pelejano pra pará de pitá...
Pôco despois eu oiei pra trais e vi o João Pitano, devia tê arrumado uma paia cum arguém lá.
Cheguemo na redoviára e eu disci e fiquei isperano o João. Os passageiro descero tudo e ele num apareceu. Fiquei incomodado e fui vê purquê ele num discia. Ele tava discutino com o cobradô João Vermêio. Priguntei o que que tava acunteceno e João Vermêio falô:
-Ele num qué me intregá a passage.
Eu raiei com o João Corote:
-Intrega logo esse caraio de passage e vambora João!
-Passage? Que Passage?
-Aquele Papel que o João Vermêio te intregô.
-Ah...Aquele papilinho branco, cheio de letra?
-Isso! Cadê ele?
-Tenho ele mais não.
-Que que cê feiz com o papel João?
Ele respondeu na bucha:
-Pitei ele!
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