MEU REINO POR UM DICIONÁRIO
Hoje nem tanto, mas antigamente quando eu ia ler um livro, o fazia com um dicionário por perto. Toda palavra que eu não conhecia, abria o dicionário para decifrá-la. Quando conversava com alguma pessoa na rua e se ela falasse alguma palavra que eu não conhecia, eu a memorizava e corria ao dicionário quando chegava a casa.
Em um dos primeiros júris que trabalhei foi em uma tentativa de homicídio, o advogado de defesa falou por duas horas enaltecendo as qualidades do réu, faltando pouco, canoniza-lo. Logo após foi a fez do promotor. Mais duas horas de “verborreia”. Ficou o tempo todo descendo a lenha no réu. O advogado de defesa, apesar de cansativo e redundante, usava uma linguagem clara e simples. Já o promotor usava um linguajar capaz de fazer inveja a Rui Barbosa, usava frases de efeito, citações de autores famosos. Em dado momento, além de citar os inúmeros “predicados” do réu, saiu-se com essa:
-O réu, além de tudo, é um contumaz frequentador de zonas boêmias, “rendez-vous” e casas de tavolagem...
Eu sabia muito bem o que era zona boêmia e “randevú”, era freguês assíduo... Mas casa de tavolagem... Socorro, Aurélio Buarque e Antônio Houaiss...
Como os dois célebres lexicógrafos não me atenderam e eu não tinha nenhum dicionário por perto, fiquei mentalmente remoendo a palavra tentando decifrá-la. Pensei:
-Tavolagem, naturalmente vem de távola... Lembrei-me do filme “Os cavaleiros da távola redonda” Portanto, távola é uma mesa, e tavolagem é algo que acontece ao redor de uma mesa... Eureca! Casa de tavolagem é uma banca de jogos de baralho...
O excomungado poderia ter dito:
“O réu, é um habitual frequentador de zonas boêmias, puteiros e bancas de jogos de azar.
Se se pode complicar, para que simplificar...
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