OS CHORÕES
Quando era estudante, esperava com ansiedade o dia Sete de Setembro, para participar do desfile. Eu era o corneteiro que tocava a “Marcha batida”, a qual substituía o hino nacional no hasteamento da bandeira. Era uma festa; as escolas, os colégios e os ginásios ficavam disputando quem ganharia o desfile, era uma disputa acirrada.
Muitos anos depois, eu estava em uma praça onde começaria o desfile, onde as escolas e os colégios já estavam esperando a abertura. O pelotão da polícia militar também estava presente.
Primeiro vieram os discursos, as autoridades no palanque rasgavam o verbo, enaltecendo a data e alguns políticos aproveitavam a oportunidade para tentar angariar alguns votos. O prefeito declarou aberta a solenidade, mandando tocar o hino nacional. Eu observava o procedimento do povo: alguns em posição de sentido, empertigados, outros com as mãos nos bolsos, bocejando, alguns de bonés, chapéus...
Notei um velho conhecido a meu lado, sério, lágrimas descendo pelo rosto. Fiquei observando-o chorar copiosamente. Quando acabou o hino, ele enxugando as lágrimas com um lenço, me falou envergonhado:
-Que vergonha... Eu choro atoa...
Querendo fazer graça, para livrá-lo do constrangimento, falei rindo:
-Que isso, chorar de emoção não é vergonha não... Eu choro até em inauguração de posto de gasolina...
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OS