Proparoxítonas Poéticas
Aí meu Deus!
Que vida esquálida
Acordo sempre de súbito
Com a minha cara tão pálida
Ao som do relógio estúpido
Preocupada com a estética
No banheiro ainda letárgica
Me cubro com os cosméticos
Como num passe de mágica
Linda e muito pragmática
Tomo o café no automático
E vou enfrentar o trânsito
Geralmente quase estático
No escritório de informática
O chefe, um cara pernóstico
Reclama da minha gramática
E que eu não tenho prática
Em serviço burocrático
Isso tudo é uma lástima
E no âmbito doméstico
A coisa anda frenética
Sem querer virei sarcástica
Sem ter tempo pra ginástica
Minha pele ficou flácida
Vou precisar de uma plástica
Minha filha primogênita
Ficou muito esquelética
Não é doença genética
Todos têm corpinho atlético
Se não for problema gástrico
Ela deve ser anoréxica
Meu filho que é disléxico
Quando crescer quer ser médico
Está com um problema psíquico
Um tal de complexo de Édipo
Meu marido, aquele déspota
Se engraçou com nossa hóspede
Trocou uma relação sólida
Por uma aventura insólita
Com a manceba errática
Foi-se embora pra Antártida
As finanças estão críticas
Bloquearam o cartão de crédito
Não aguento esta política
Com sua falsa retórica
Sem seriedade nem ética
Ando um tanto sorumbática
Com esta situação dramática
Estou ficando lunática
Aí meu Deus!
Que vida trágica!