Proparoxítonas Poéticas

Aí meu Deus!

Que vida esquálida

Acordo sempre de súbito

Com a minha cara tão pálida

Ao som do relógio estúpido

Preocupada com a estética

No banheiro ainda letárgica

Me cubro com os cosméticos

Como num passe de mágica

Linda e muito pragmática

Tomo o café no automático

E vou enfrentar o trânsito

Geralmente quase estático

No escritório de informática

O chefe, um cara pernóstico

Reclama da minha gramática

E que eu não tenho prática

Em serviço burocrático

Isso tudo é uma lástima

E no âmbito doméstico

A coisa anda frenética

Sem querer virei sarcástica

Sem ter tempo pra ginástica

Minha pele ficou flácida

Vou precisar de uma plástica

Minha filha primogênita

Ficou muito esquelética

Não é doença genética

Todos têm corpinho atlético

Se não for problema gástrico

Ela deve ser anoréxica

Meu filho que é disléxico

Quando crescer quer ser médico

Está com um problema psíquico

Um tal de complexo de Édipo

Meu marido, aquele déspota

Se engraçou com nossa hóspede

Trocou uma relação sólida

Por uma aventura insólita

Com a manceba errática

Foi-se embora pra Antártida

As finanças estão críticas

Bloquearam o cartão de crédito

Não aguento esta política

Com sua falsa retórica

Sem seriedade nem ética

Ando um tanto sorumbática

Com esta situação dramática

Estou ficando lunática

Aí meu Deus!

Que vida trágica!

Rosamaria Gurniak
Enviado por Rosamaria Gurniak em 16/07/2021
Reeditado em 16/09/2021
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