Pérlas do Cotidiano - Azucrinando até as idéias.

Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zruummmmm!

Pretende o cronista, com a onomatopéia acima, dar uma ligeira idéia aos leitores do que seria o barulho de uma serra, azucrinando o tempo todo os nossos ouvidos. É um som de lascar: igual a ponta de um torturante bandaid no calcanhar, lancinante igual a um grito fantasmagórico, tenebroso feito uma noite escura num cemitério e, por que não dizer, chato até debaixo d’água. Imagina o Amigo querendo curtir uma música, bater um papo, tirar uma soneca, ver um programa de TV, ou mesmo a fim de ficar simplesmente sossegado e não podendo. Já pensou ? Zrrrrriiiiimmmmm!!!!! Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!! É dose pra mamute; é coisa pra tirar a gente do sério. Ainda se fosse a Serra da Mantiqueira, da Boa Esperança, da Canastra, vá lá que seja; mas elétrica ? Realmente não há tatu que agüente. E essa tal serra existe. Vamos aos fatos.

A dita cuja estava instalada num edifício chamado 200. Ou melhor, chamado 45, de uma certa rua de Niterói. O prédio não tem nada de comercial. Trata-se de local estritamente residencial, daí o porquê não poder comportar um monstro dessa espécie. Como ninguém mais agüentava o silvo estridente da fera, a polícia foi requisitada para dar fim ao tormento dos moradores. Além de ter levado uma boa espinafração, o serrador — cujo nome nunca se soube —, pagou uma polpuda multa e teve retirada de seu apartamento a parafernália que tantos dissabores causou aos demais condôminos. A estória bem que poderia acabar por aqui mas, assim não teria a menor graça. Ela vai continuar, sim. Por que não ???

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No domingo passado a dona do apto. 304 promoveu um chá da meia-noite, aliás, das cinco, acompanhado de um bolo caseiro, daqueles chamados de “básico”. Farinha de trigo, 2 ou 3 ovos, manteiga... Vamos parar por aqui para não ficarmos com água na boca. O melhor disso tudo é que o cronista foi convidado. Às quatro e meia lá estava eu. Rente como pão quente. Quem é que dispensa um belo bolo ? Quando faltavam dez minutos para o início do convescote de luxo, um fumegante bule de chá, oriundo da cozinha, passou pelo corredor, indo instalar-se na mesa da sala. E o bolo ? Onde é que estava a chamada pièce de resistance ? Diga-se, de passagem, que o meu estômago — em razão da fome canina que o acometia —, produzia um ronco que lembrava, de certo modo, uma nossa conhecida serra, de triste memória. Para meu espanto e dos demais convidados, o barulho exacerbou-se. Zrrrrriiiiimmmmm!!!!! Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!! Não era possível. A fera tinha voltado com a corda toda. Era ela mesmo. Agora mais forte do que nunca. Não se ouvia mais o som de estômago estrebuchando de fome. Só se ouvia a tal serra. Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!! O que teria havido ?

Indaguei à anfitriã o que se passava. - O serrador era ligado à política ? Tinha algum pistolão na Prefeitura ? Possuía as costas quentes (tipo chá das cinco) ? Era amigo de algum figurão da Câmara dos Vereadores ? Ou teria parte com o demo ?

— NÃO, NADA DISSO ! Respondeu a promotora dos “comes-e-bebes à La Inglesa”. O negócio é o seguinte: andei uns seis meses pelos States. Com isso, perdi totalmente a prática de meter a mão na massa. O bolo solou e não houve faca que desse jeito. Ficou mais duro do que cimento armado. Pra cortar o danado tive que contratar os serviços do serrador aí de baixo.

Ela ainda tentou dar mais algumas explicações. Não conseguiu. A única coisa que se podia ouvir era: Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!Zrrrrriiiiimmmmm!!!!!

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