BEM-TE-VI
Ouvi uma historinha parecida com esta há mais de sessenta anos, nos tempos de escola, vou reconta-la do meu modo:
O rapazinho nascido na capital, nunca tinha saído de lá, e certa vez estando em férias, foi passear na casa de uma tia, em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais.
Lá chegando, ficou admirado com tanta novidade: carroças puxadas por bois, charretes com cavalos, pessoas montadas em cavalos, burros, mulas, e até uma pequena carroça puxada por cabritos. Ele fotografava tudo. Certo dia pegou uma bicicleta emprestada e saiu pedalando pelas estradas rurais. Levou uma sacola e saiu recolhendo vários tipos de frutas nativas, não sabendo se eram comestíveis ou não.
Passou por uma ponte de madeira sobre um pequeno córrego. Desceu da bicicleta e bebeu da água cristalina e ficou olhando extasiado as pequenas piabas que nadavam a flor d’água. Após muito pedalar e maravilhar-se com a quantidade de pássaros que ele nem sabia existir resolveu voltar. Passou por uma extensa lavoura de milho. A safra era boa, os pés de milho vergavam com o peso das espigas. Ficou se lembrando dos colegas contando a emoção de furtar milho em beira de estradas. Resolveu experimentar. Encostou a bicicleta e passou por baixo da cerca de arame e escolheu e colheu quatro gordas espigas.
-Depois eu conto para a Tia que comprei as espigas, pensou ele.
Com as próprias palhas, amarrou as espigas uma nas outras, colocou as nos ombros e foi passando pelo arame. Escutou um grito:
-Bem-te-vi!
Levou um susto. Pensou:
-Tô ferrado, se for preso e meu pai souber, ele me mata.
Olhou pelos arredores e não viu ninguém. Deu alguns passos em direção á bicicleta e ouviu de novo:
-Bem-te-vi!
Olhou, olhou, por todos os lados e novamente não viu ninguém.
Rapidamente montou na bicicleta. Ouviu de novo, desta vez, mais perto:
-Bem-te-vi!
Irritado e assustado, jogou as espigas de milho no milharal e gritou:
-Enfie este milho na bunda seu cagueta filho da puta!
E pedalou velozmente se afastando dali...
***