A Mulher Fantasma da Ilha Fit - Capítulo II - A Ilha Fit

Caminhei durante muito tempo sem encontrar viva alma. O sol ia alto e a fome começava a incomodar, quando enxerguei bem distante o que me pareceu um aparato humano. Não mais que uma pequena mancha ainda, mas acreditei ter visto uma tosca construção. Corri para lá entre ansioso e assustado. Era um sinal inequívoco da presença de pessoas, e eu esperava que fossem amistosas. Enfim cheguei a um pequeno barraco construído com troncos e palha. Fora feito apenas para guardar redes e alguns apetrechos que estavam arrumados de modo que denotava espírito de organização. Havia ainda uma pequena vereda que seguia entre os coqueiros, afastando-se da praia. Tomei aquele caminho, esquecendo qualquer temor que tivesse antes. Gente que colocava rótulos com nomes nas coisas não devia ser perigosa.

Assim encontrei a Tribo dos Engenheiros Perdidos. Viviam em um grupo de pequenas habitações construídas numa clareira, sobre uma pequena elevação, e deviam ser não mais que umas três ou quatro dezenas de almas. Segundo a lenda, eram todos descendentes dos tripulantes e passageiros de um transatlântico que naufragara havia muitos anos, durante um cruzeiro oferecido por uma grande empresa aos seus engenheiros. Eles me esclareceram que estávamos de fato numa ilha, e por infelicidade afastados das rotas marítimas e aéreas. Além disso, a violência do mar e do vento era terrível, e tentar partir dali, quase impossível. A implacável maré arrastava qualquer coisa de volta para a praia, e o homem mais forte ficaria exausto em minutos tentando se afastar. Os primeiros momentos foram muito tensos. Vi-me cercado por vários homens com ar de desvario e longa privação, e temi pela minha integridade anal. Mas os engenheiros eram um povo pacífico. De tempos em tempos surgiam náufragos como eu, que eram simpática e pacificamente integrados ao grupo. Além de mim havia um outro que chegara não me recordo quanto tempo antes, e chamava-se Maúr. Eles passavam os dias entretidos com suas pequenas ocupações. Para a subsistência gastavam pouco tempo, mas estavam sempre atarefados montando e desmontando as próprias engenhocas e inventando parafernálias que consideravam úteis. Tinham todos um ar estranho e distraído, estavam sempre divagando, riam muito entre si e uns dos outros, e gostavam de contar e rir das próprias piadas. Eram organizados e metódicos, e para dizer a verdade levavam uma existência desgraçadamente monótona, mas apaixonavam-se por suas quinquilharias de maneira arrebatadora. Pareciam ter um incrível senso prático para tratar de coisas específicas, mas sem nenhum sentido de adequação à vida como todo. Eram arrojados sem serem empreendedores. Bons executores do que quer que fosse, mas planejadores, eu não diria medíocres, mas nulos. Porém um detalhe me chocava e surpreendia mais que tudo naquele lugar, chamado por eles de Ilha Fit. E esse detalhe era que na Ilha Fit não havia mulheres. Todos, eu disse todos, todos os membros da tribo eram homens adultos. Ou seja, efetivamente a ilha só tinha membros. Como se explicava aquilo? Por que não havia mulheres na Ilha Fit?