Exportador de Chifre

A audiência transcorria normalmente. A advogada dos autores e o advogado do réu, cada qual em seu papel de bons defensores de seu clientes, debatiam com veemência sobre a responsabilidade civil objetiva de um possível dano material e moral decorrentes de um assalto no interior de uma concessionária de veículos, que resultou, segundo a autora, na subtração de seus mais de 17 mil reais.

A alegação, por parte da advogada da parte autora, de que a fita da gravação do ocorrido juntada aos autos, continha imagens possivelmente diferentes da original, quase ensejou uma nova ação, desta feita em vara criminal. Serenados os ânimos com a devida intervenção do senhor juiz e ditadas as alegações finais, eis que os advogados se descobrem quase parentes e passaram a tecer elogios as suas gentes e a sua terra, Campina Grande. O advogado deu exemplos vários dos feitos de sua terra no que tange a insuperável capacidade de "cópia" de produtos e da produção de gêneros de exportação. Empolgado, disse ainda que o comércio de Natal estava dominado por empresários paraibanos, exaltando o lado empreendedor de sua gente. A Advogada, para marcar ainda mais a impressão da terra em que por razões quais não sei porque resolveram, ambos, abandonar, disse: É Campina Grande está exportando até Chips! O advogado, não ouvindo direito o que ela disse e outra palavra entendendo, eleva espantado as mãos à vasta cabeleira de raposa velha e exclama de olhos arregalados: Até Chifre Campina tá exportando, valha minha nossa senhora! E foi uma gargalhada só!

Marcos Cavalcanti
Enviado por Marcos Cavalcanti em 28/11/2007
Reeditado em 06/12/2007
Código do texto: T756719
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