EXEGESE
O ano de 79 representou, na década, o ponto alto da vida de D. Afonso. Sentia-se muito bem casado com D. Sandra, com quem já tinha uma filha e encontravam-se a caminho do segundo. Profissionalmente, estava muito bem instalado numa Assessoria Parlamentar, além de ocupar a Editoria de Política do jornal Notícias da Capital e a direção de seu escritório de Advocacia.
Naquela época, Sandrosa se permitia, vez ou outra, comportar-se como uma esposa tradicional. Não demonstrava envolvimento, mas preocupação com as múltiplas atividades do marido. Era comum, naqueles dias de agito, ele sair do Senado por volta das 19:00h, ir direto para o escritório onde ficava até 21 ou 22h e ainda passar na sede do jornal para entregar a matéria a ser publicada no dia seguinte e curtir um papo com companheiros de redação, chegando à casa por volta da meia-noite.
Uma vez, porém, a rotativa do jornal pifou e havia o compromisso de colocá-lo nas bancas antes das 05:00h. Enquanto uma equipe tratava de buscar quem pudesse consertá-la, D. Afonso tentava viabilizar uma alternativa que consistia em conseguir rodá-lo nos equipamentos de algum concorrente, o que, felizmente, não foi preciso. De qualquer forma muito tempo foi consumido, tanto em contatos telefônicos como na espera do reparo que já estava em andamento. Restabelecida a normalidade, partiu para casa, onde chegou por volta das 03 da manhã. Como de costume, tomou seu banho e preparou-se para dormir.
Ao deitar-se, Sandrosa vira-se e pergunta: “Benhê, que horas são?”
- Uma hora.
- Como uma hora? Às duas dei mamadeira para a Samantinha!
- Oh, Sandrosa, Sandrosa.... uma hora é uma hora qualquer. É indeterminado! Não me diga que não estudou Português!
E dormiu.