A FESTA

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA

A família Costa Pereira estava eufórica com a proximidade do grande dia. No sábado, com uma festa planejada nos mínimos detalhes, ela iria comemorar os 15 anos de Ana Letícia.

Praticamente tudo estava pronto. O buffet fora contratado com o que existia de melhor, o conjunto musical também era o mais requisitado da região. Ambos mereceram a indicação do colunista social local, tendo em vista que o pai da debutante era um dos homens mais ricos da cidade.

Roboaldo era um jovem de 17 anos e apaixonado por Ana Letícia, sendo que ela, embora soubesse daquele sentimento, tinha pelo rapaz apenas simpatia.

À noite, na pracinha do bairro onde a turma se reunia, Roboaldo não escondia seu entusiasmo. Jurava para os amigos que, naquela data, pediria Ana Letícia em namoro.

A turma se mostrava incrédula, apesar de apoiar a pretensão. Todos sabiam que a moça não se interessava pelo seu pretendente, embora o tenha chamado para ser um dos 15 pares a dançar a valsa.

Finalmente chegou o dia tão especial. Na mansão dos Costa Pereira o movimento era intenso. De longe, a turma não perdia os detalhes, esperando com ânsia pela hora do início da comemoração.

Às nove horas da noite, a rapaziada estava prontinha para o grande baile. Roboaldo trajava um terno impecável, deixando transparecer todo o seu júbilo. Chegou mesmo a apostar com os companheiros que dançaria com a aniversariante.

E foram todos para a residência da debutante, sendo recebidos pela família e conduzidos ao interior da casa.

A grande sala parecia cena de cinema, tal o luxo e bom gosto que apresentava. Na parede, uma destacada pintura da aniversariante. Roboaldo olhou para o quadro e deu um grande suspiro, no exato momento dos primeiros acordes do conjunto, que entoava com maestria New York, New York.

Pouco antes da valsa em que seria um dos 15 pares, dançando com Heleninha, uma bela morena, Roboaldo sentiu necessidade de ir ao banheiro, oportunidade em que cochichou com Anfrísio:

- Anfrísio, preciso ir ao banheiro, estou apertado.

- Vamos, eu também vou com você, respondeu-lhe Anfrísio.

Os dois rapazes indagaram ao garçom onde era o banheiro, ao que ele indicou a direção da escada que dava acesso à parte de cima da casa.

Rapidamente subiram a escada, deparando-se com um corredor com várias portas. Todavia não havia identificação de banheiro.

Com cuidado e devagar, abriram uma porta e, com surpresa, notaram que era o quarto de Ana Letícia, pois havia fotos dela na parede, na penteadeira, enfim tudo que identificasse a dona do lugar, sem falar nas roupas em cima da cama.

Roboaldo, olhando surpreso para Anfrísio, disse:

- Amigão, você fica na porta vigiando que eu vou entrar no banheiro dela, ok? - falou e entrou rapidamente no banheiro.

O banheiro era bastante luxuoso, com lindos azulejos. Logo Roboaldo notou o armário onde estava a escova de dente e outros apetrechos de higiene.

O jovem passou a verificar tudo o que o armário continha. Abria as colônias e as cheirava. Notou também um tubo de desodorante. Apanhou-o e, sem maiores observações, aplicou-o em quantidade nas axilas, aproveitando também para usá-lo ligeiramente nos cabelos em virtude do aroma.

Notando as roupas de Ana Letícia, Roboaldo examinou-as minuciosamente. Cheirava as calcinhas etc.

Ao sair do quarto, Anfrísio notou como o amigo estava cheiroso, embora o aroma fosse diferente dos tradicionais.

Perguntou-lhe então:

- O que você está usando Roboaldo? Você mexeu nas coisas da Ana?

- Olhe, Anfrísio, eu usei o desodorante dela. Parece ser importado. Sinta como é cheiroso.

- Tem um cheiro bom - falou Anfrísio.

Pelo microfone do conjunto musical, os pares foram chamados para a valsa. Roboaldo desceu a escada correndo.

No meio da sala, os casais postavam-se para a dança. Logo o conjunto começou a tocar. Ao som de Danúbio Azul, Ana Letícia deslizava pelo salão nos braços do pai, sendo seguida pelos outros pares.

Encerrada a valsa, o conjunto iniciou o repertório popular com os sucessos do momento.

Notando Ana Letícia conversando com Tia Zuleica, rapidamente Roboaldo a tirou para dançar.

No meio da sala, ele passou a dançar coladinho com a aniversariante, preparando-lhe o espírito para o pedido de namoro, conforme confidenciara antes para a sua turma.

Antes que falasse, Ana Letícia lhe perguntou:

- Roboaldo, que perfume você esta usando?

- Você notou, Letícia? Comprei na importadora hoje, ótimo cheiro, não é? – respondeu-lhe Roboaldo.

- Olhe, você me desculpe, eu conheço este aroma, é muito enjoativo, vamos parar de dançar, não me leve a mal – disse-lhe e deixou-o no meio do salão, indo para uma sala onde estavam suas primas, que olharam na direção de Roboaldo.

Sem entender direito o acontecido e ante o olhar curioso dos amigos, Roboaldo esperou passar alguns instantes e procurou Lourdinha, uma prima confidente de Ana Letícia, indagando-lhe:

- Lourdinha, pode me explicar por que Letícia me deixou daquele jeito?

- Roboaldo, você deu uma gafe, meu amigo. Nós vimos você e o Anfrísio conversando com o garçom e, em seguida, indo para o andar de cima. Perguntei ao garçom o que você queria e ele informou-me que você procurava o banheiro. Depois você aparece com aquele cheiro, logo Letícia deduziu que você usou o desodorante dela que estava no banheiro. Não foi?

- Sim, usei, que mal tem isto? – retrucou.

- Mal nenhum, Roboaldo - tornou Lourdinha - mas o desodorante que você usou era para uso íntimo, bocó! Fique sabendo então com que cheiro você está!

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 10/12/2007
Reeditado em 18/12/2007
Código do texto: T772423
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