NA ESCOLA; O GAROTINHO TÍMIDO
Eu trabalhei quase oito anos em uma escola pública estadual. Trabalhava como bibliotecário, pude presenciar o quanto os professores e funcionário da educação em Minas Gerais são sacrificados. Salários aviltantes, verbas insuficientes bem como, materiais de consumo, limpeza e outros. Para complementar as verbas e não deixar faltar materiais, em época de carnaval, arrendávamos um bar em um dos clubes da cidade e trabalhávamos exaustivamente durante as quatro noites. Organizávamos os famosos “arraiás” das festas juninas, cobrando ingresso e vendendo canjica, quentão, pipocas. As serviçais faziam bolos e doces para serem vendidos. Governadores priorizam a segurança e os tribunais, pouco ligando para a educação.
Certo dia, época de matrículas, havia na escola uma longa fila, só tinha uma funcionária atendendo. Fiquei por lá organizando a fila e fornecendo informações aos interessados. Notei na fila uma senhora ainda jovem, mal vestida usando sandálias tipo havaianas, com um menino irrequieto agarrado a sua saia, se escondendo atrás dela quando alguém chegava por perto. Ao ver o tamanho da fila a diretora me pediu para ajudar a secretária a fazer as matrículas.
Comecei o atendimento e após atender a algumas pessoas, chegou a vez da senhora com o garotinho tímido. Ela começou a preencher toda a papelada e ia respondendo as minhas perguntas. O garotinho agarrado a sua saia assistia a tudo calado. Eu vendo seu desconforto, comecei a conversar com ele para deixa-lo mais a vontade. Brinquei com ele:
-Aí garotão, vamos nos divertir muito lá na quadra...
Ele ria muito sem graça.
Perguntei:
-Como é que você se chama?
Ele respondeu:
-Ge-ge-ge-raldo Ma-ma-magela!
Toda criança em idade escolar com algum distúrbio vocal como, fanhosidade, gagueira, dislalia, tatibitate, devem ser encaminhadas a um fonoaudiólogo.
Pensando que sua gagueira fosse pelo estresse do momento, perguntei à mãe:
-Ele gagueja sempre?
Ela distraída com a papelada, respondeu:
-Só quando ele fala.
Sei que não é caso para rir, mas tive vontade de perguntar a ela:
-Ah, bom, quando ele está calado não gagueja, não é?
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