FLORES E BOMBONS

Ronaldo José de Almeida

Pela vigésima vez, Constantino encontrou Aurora no ponto de lotação.

Ela sempre carregando uma bolsa enorme, repleta de material escolar, bem trajada, embora com simplicidade, cabelos presos com um prendedor de metal com pequenos adornos, enfim, uma moça bonita.

Novos encontros se sucederam daí surgindo trocas de olhares e pequenos sorrisos, atos que impulsionaram o rapaz a uma aproximação.

- Como vai? meu nome é Constantino, vejo sempre você aqui neste horário, certamente esperando o lotação.

- Tudo bem? Meu nome é Aurora, sou professora, aqui é o meu ponto de ônibus.

- Então você leciona próximo à minha casa, pois iremos na mesma direção.

- É verdade Constantino, leciono na Escola Municipal, você é muito observador.

Durante o trajeto conversaram bastante e Aurora ficou sabendo que Constantino era funcionário estadual e solteiro.

Por outro lado Constantino tomou conhecimento que Aurora era filha única, tinha se divorciado há pouco tempo e estava morando com os pais.

O pai da moça era militar reformado, bravo e de pouca conversa, não deixava homem nenhum se aproximar da filha, não obstante a donzela já passar dos 25 anos.

Coincidência ou não, o rapaz sempre encontrava a moça à espera do lotação, assim sentavam-se juntos e fluía uma boa conversa sobre amenidades.

Constantino, cheio de paixão pela moça, deixou-se dominar por um sentimento profundo, estava realmente apaixonado e ungido de Intrepidez, assim, declarou-se a professora:

- Aurora, eu quero conhecer os seus pais, pedir o consentimento deles para namorá-la em casa.

- Olhe Constantino, eu sei da sua boa intenção, mas meu pai é uma pessoa muito severa, e devido eu ter me separado há pouco tempo, ele não aceitará nosso namoro. Ainda é cedo, tenha paciência.

Devido à austeridade do pai da moça, Constantino contentava-se em ver a moça esporadicamente no ponto de parada do lotação.

Por várias vezes tentou argumentar com Aurora no sentido de ir até sua casa e conversar com seu pai, queria namorar em casa, a moça porém, sempre se esquivava com desculpas evasivas; pedia lhe calma.

No sábado Constantino querendo surpreender a moça, passou na floricultura do nisei Mário.

- Tudo bem Mário?

- Como vai Constantino? Você por aqui? Que novidade!

- Meu amigo quero mandar flores para uma moça especial. O que você me sugere?

- Olha Constantino, mande uma corbelha de flores vermelhas com bombons, com certeza ela vai adorar. Recomendou Mário.

- Aceito a indicação Mário, obrigado.

Em seguida o rapaz, pediu um cartão de linho escreveu um lindo poema e mandou um moto-boy entregar.

Na segunda-feira, esperou ansiosamente Aurora chegar ao ponto de ônibus, assim que a viu, foi ao seu encontro sorridente, esperando a compensação pelo seu gesto.

- Como passou o final de semana, professora?

- Constantino, recebi com satisfação as flores que você me mandou. Que lindas e que bombons deliciosos, adorei, muito obrigado. Agora, o poema, meu Deus, que maravilha, que maravilha!

- Gostou mesmo professora, fico satisfeito de ter lhe agradado, fiquei com medo de você não gostar, quem sabe da próxima vez eu possa levar pessoalmente?

- Gostei mesmo Constantino, porém, quanto a ir a minha casa, ainda não é o momento, primeiro preciso convencer meu pai.

Diante da aprovação do seu gesto, o rapaz voltou á floricultura e repetiu a dose, novas flores, bombons e poema, com o moto-boy entregando à sua musa.

As entregas das corbelhas tornaram-se freqüentes, cerca de três a quatro vezes por semana, o rapaz estava totalmente apaixonado, mas não conseguia convencer a professora quanto a freqüentar a sua casa, era sempre repelido com evasivas consoladoras.

Certo dia, o garçom João Cocá , seu amigo atendente do bar Esperança, local muito freqüentado pelo rapaz, viu Aurora na garupa de uma moto, lá pelas bandas do motel.

- Sabe Consta, ontem á tardinha eu vi Aurora na garupa de uma moto na direção do motel, tava grudada nas costa do motoqueiro.

- É verdade , tem certeza que era Aurora? Você pode ter se enganado.

- Enganei não Consta, era ela mesma, estava sem capacete e com aquela blusa vermelha com a cara da Madona estampada nas costa. - Respondeu o garçom afirmativamente.

- Sacanagem , vou tirar isso a limpo.

Constantino tentou de todas as formas flagrar a professora, mas não conseguiu, ficou na esquina espreitando, porém em vão. O garçom sempre lhe avisando das treitas da moça, o que irritava ainda mais o rapaz.

- Consta meu amigo, a Aurora tem pulado a cerca com o motoqueiro, ontem eu pedi ao meu vizinho Quirino para segui-la, e a moto entrou no motel, e tem mais meu amigo, ele é de dentro da casa dela, os pais consentem o namoro.

- Que brincadeira é esta ? Não estou acreditando. -Perguntou irritado o rapaz.

- Olha , fique de olho nela para mim, quando ela passar você me liga. tudo certo?

- Combinado Consta, deixa comigo.

Conforme combinado, o garçom ligou assim que o motoqueiro passou com Aurora agarrada às suas costa. Imediatamente Constantino ajustou um moto-boy e foi ao encontro do amigo.

- Então , viu a Aurora?

- Passou agarradinha no motoqueiro, Consta, foram em direção ao motel.

- Vamos para a porta do motel .

O rapaz dispensou o moto-boy que o tinha levado e seguiu com o amigo garçom, na moto deste.

Estacionaram próximo ao motel, num local estratégico com ampla vista da entrada e ali permaneceram por algumas horas.

Em dado momento o portão de saída abriu-se e a moto tão esperada apareceu com a professora na garupa agarrada ao motoqueiro.

- Olhe é a moto do entregador da floricultura do Mário, eu ainda dava gorjeta para este infeliz levar as flores para Aurora, desgraçado, ele me paga.

Correndo Constantino e o amigo chegaram á entrada do motel e postaram-se em frente á moto. Aurora abaixou a cabeça envergonhada sem nada falar.

- Muito bonito Aurora, sua piranha, vagabunda, pousando de santa para mim, na verdade não passa de uma biscate. E você moleque, hoje mesmo vou falar com o Mário sobre o tipo de empregado que ele tem.

Aurora levantou a cabeça e olhou espantada para Constantino, como se nada entendesse.

Em seguida o motoqueiro retirou o capacete e falou:

- Desculpe Constantino eu me apaixonei, aliás, nós nos apaixonamos, não é meu amor?

- Mário! Japonês desgraçado, traidor. – Gritou Constantino.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 17/12/2007
Reeditado em 19/12/2007
Código do texto: T782075
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