DONA ALICE NO SUPERMERCADO

Ronaldo José de Almeida

Dona Alice, 75 anos, mais uma vez entrou na copa e olhou para o relógio de parede que marcava 14h15min. Ela já estava impaciente. A feira que fizera ainda não tinha sido entregue. Era dia de natal e a Ceia por certo iria atrasar. Nervosa trocou de roupas e rumou a passos largos para o supermercado. Existiam na cidade dois supermercados, que logicamente se rivalizavam. Dona Alice adentrou ao estabelecimento olhando por cima, procurava um funcionário que resolvesse o problema da entrega da feira.

Vislumbrou um rapaz bem trajado com crachá estampado no bolso da camisa, foi até ele e disse:

- Vocês ainda não entregaram a minha feira. Qual o motivo do atraso? Eu já paguei.

- Um momento minha senhora. Eu vou verificar. Venha comigo.

-Não vou não. O senhor trate de mandar a minha feira agora. Eu vou junto. Não saio daqui sem minha feira. - Esbravejava Dona Alice.

- Calma minha senhora. Acalme-se.

Quanto mais o funcionário tentava acalmar a velhinha, mais ela gritava. A essa altura já formara uma pequena aglomeração ao seu redor. O pobre do funcionário tentava argumentar com a idosa:

- A que horas a senhora efetuou as compras, senhora?

- Para que o senhor precisa saber a hora? O senhor tem é que mandar levar, entregar na minha casa, ora bolas.

- Veja bem minha senhora...como é mesmo o seu nome?

- Vejam só! Agora quer saber o meu nome? Por que não pergunta o meu endereço para levar a minha feira?

- Assim não dá. Vamos conversar, minha senhora. Acalme-se.

- Eu não estou aqui para conversar. Eu quero a minha feira, moço!

- Um momento. Aguarde somente um momento. Mas me diga pelo amor de Deus o endereço da sua residência para eu saber o motivo do atraso da entrega.

Muito irritada Dona Alice forneceu o endereço ao funcionário. Este saiu rapidamente e a velhinha ficou dialogando com as pessoas que estava ao seu redor. Uma meia hora depois o funcionário voltou.

- A senhora tem o comprovante da compra? - indagou o rapaz.

- Claro que não seu imbecil. Vocês ficaram com a nota para entregar junto com as compras. Mas eu tenho a lista dos produtos que comprei. Olhe aqui. - disse Dona Alice entregando a lista que ela fizera em casa.

- Muito bem, minha senhora. Não consegui localizar sua feira. Mas confiamos na senhora. Rapidamente embalaremos os produtos listados pela senhora e enviaremos a sua casa.

- Eu posso aguardar? - perguntou à senhora.

- Claro! Claros! Vamos até o escritório a senhora toma um pouco d’água ou um café enquanto providenciaremos tudo.

- Ah! Nesta lista está faltando uma caixa de sorvete da Kibon.

- Está certo. Acrescentarei uma caixa de sorvete. – disse o funcionário.

O rapaz já estava saindo quando Dona Alice o chamou:

- Hei! Sorvete de flocos.

- Tudo bem! Tudo bem!

Algum tempo depois a Kombi do supermercado estacionava na porta da casa de Dona Alice. Ela estava sentada ao lado do motorista.

O ajudante colocou a caixa de produtos na mesa da cozinha e foi embora.

A filha de Dona Alice a olhou estupefata e disse:

- Mãe, logo que a senhora saiu à feira chegou. A senhora comprou, mas foi do outro supermercado!

Dona Alice colocou a mão na cabeça e disse assustada;

-Meu Deus! Foi?

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 01/01/2008
Código do texto: T798597
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